foto: A&M ART and Photos
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Inventaste o medo para me afugentares
dos braços silêncio em espuma
submersa nas manchas do prazer,
acreditava nas gaivotas com coração
de prata
e lábios desconexos percorrendo searas
adormecidas
e voando mais alto, perdiam-se, como os
grãos de areia de fina estampa
nos corpos de madeira depois de
derrubadas,
depois de assassinadas, todas as
árvores e arvoredos
que a insónia imprime nos teus seios
de pedra-pomes,
havíamos um dia de cruzarmos-nos numa
rua sem saída
que o tempo deixou esquecida na cidade
dos fantasmas vaidosos,
não acreditei,
não percebi que das sombras cinzas dos
cigarros perdidos
pudesse sair o teu corpo húmido como
uma manhã quando a neblina,
espessa, árida, cobre o rio com todas
as gotinhas do suor tua pele,
quando a tua neblina penetra
incessantemente as flores de um jardim enforcado,
um jardim sombreado, lapidado a lápis
de cor,
eu ouvia
e,
eu ouvia e sentia nos teus doces lábios
o cansaço dos dias
e das noites como um náufrago
há procura das rochas vermelhas,
roubava ao luar a sanidade mental de
estar vivo,
e acreditar que amanhã,
depois de acordares,
deixavas de inventar o medo, e me
abraçavas como as sílabas deitadas na página de um caderno...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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