terça-feira, 6 de dezembro de 2016

O triângulo da morte



Todas as palavras voam sobre o mar,
Há-de haver uma gaivota em desejo
Nos vulcões suspensos do prazer,
O fingimento da madrugada
Quando a pobreza habita um corpo cansado de viver…
Há-de haver uma calçada
Nos meandros do beijo,
Uma palavra para escrever
Em cada olhar viciado na cobardia,
Em cada olhar disfarçado de lágrimas solares,
Em cada ensejo
Todas as palavras voam…
Todos os mares correm
E morrem,
Nos corredores em silêncio azulejo,
A cada dia,
Todas as palavras,
Morrem,
Morrem depois do amanhecer,
E na escuridão do ser,
E na mão do ter…
Resta esta árvore de sofrer.


Francisco Luís Fontinha
06/12/16

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Terra do silêncio


Esta terra entranhada nas raízes do Diabo,

Sonolenta quando acorda o Inverno,

E uma lâmina de lágrimas brota do seu coração,

Saboreia as espadas da dor

No término da tarde onde inventa o silêncio do desejo,

Uma enxada poisa na sombra da terra lavrada,

E o vulto de cigarro em cigarro,

Como uma árvore deitada

Sobre a esplanada da paixão,

Dorme docemente…

Esta terra é íngreme como as montanhas do Adeus,

Sem sorriso,

E do cansaço brilham as estrelas da noite…

A casa gélida, triste,

Murmuram os candeeiros a petróleo nas cicatrizes da incerteza,

O absoluto orgânico melancólico cilíndrico…

Que o peso da lua deixa ficar sobre os envidraçados lábios,

Esta terra de beijos e moradas,

Esta terra queimada pelo incenso do amor

Que em todas as horas desperta como uma criança de luz…

Sinto o brilho dos teus olhos

Nas almofadas do desterro,

E as palavras que semeias…

Habitam este Inferno de viver.

 

 

Francisco Luís Fontinha

05/12/16