sábado, 2 de janeiro de 2016

No chão, a desgraça manhã confundindo o corpo com o pequeno-almoço, a sinfonia da saudade,

Não serei o teu escravo, o sevo da desilusão, o menino mimado encalhado na solidão, não o serei, meu querido, poeta bandido, homem da corrente de aço, Cacilheiro perdido no Tejo quando a neblina se entranha no chão
Amanhã, meu amor, amanhã haverá madrugada,
No chão, as mortíferas cancelas do sofrimento, amanhã não acordarei para te beijar, os beijos, o jantar… não existem neste corpo, e brincam, e sofrem, e brincam como crianças esfomeadas pelo cansaço da brincadeira, a ténue Primavera, as andorinhas em papel penduradas nos atorges gonzos da memória, sinto-o, a tua presença
Entranhadas no chão, recheadas de amendoeiras em flor, palavras e cor...
No chão, a desgraça manhã confundindo o corpo com o pequeno-almoço, a sinfonia da saudade,
Palavras e cor… momentos desrizes e condomínios encerrados para obras, o pavimento encarnado na saudade, o mesmo corpo de há pouco… esbelto cacifo nas constantes avenidas do madrugar, a cidade em morte, a cidade da morte, não há transeuntes, não há camuflados apeadeiros das manhãs embriagadas pelo sono, a sinfonia da saudade
Não serei o teu escravo, o sevo da desilusão, o menino mimado encalhado na solidão, não o serei, meu querido, poeta bandido, homem da corrente de aço, Cacilheiro perdido no Tejo quando a neblina se entranha no chão, a sinfonia da saudade, o abismo mosquito saboreando a noite recheada de abelhas e estrelas, de estrelas e abelhas, mosquitos apavorados, e corpos comidos por velhos mosquitos, o sono empoleirado sobre o castanheiro da aldeia,
Palavras e cor… momentos desrizes e condomínios encerrados para obras, o pavimento encarnado na saudade, o mesmo corpo de há pouco… esbelto cacifo nas constantes avenidas do madrugar, a cidade em morte, a cidade da morte, não há transeuntes, não há camuflados apeadeiros das manhãs embriagadas pelo sono, a sinfonia da saudade
Da aldeia dos sonâmbulos corpos de cera, a oração sempre na ponta da língua, o insignificante orgasmo literário de mão atadas a um blogue, a noite escura, a escura maldição nos confins do alarmismo, sempre, regressam os candeeiros da alvorada
E corpos comidos por velhos mosquitos, o sono empoleirado sobre o castanheiro da aldeia, o sino da igreja vestido de sentinela, os foguetes, a raiva, e o sofrimento da medusa escuridão dos musseques fotografados pelo olhar,
Os candeeiros da alvorada… mortos… término.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
sábado, 2 de Janeiro de 2016

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Palavras em papel e palavras de papel


Os dias contados

Como cêntimos embalsamados na mão do cansaço

A triste avenida despida

Descendo a Calçada rumo ao infinito rochedo do medo

O calendário suspenso na parede triste da cozinha

Anunciando palavras em papel

E palavras de papel

Sozinha

A avenida empolgada

Iluminada

Que nem eu consigo encontrar o caminho

Do deserto

 

Incerto

De eu menino…

 

Os dias contados

Como cêntimos de brincar

Na algibeira do desejo

Regressam os lábios

Regressa o beijo

E a avenida perdida

No centro da cidade de vidro

Os dias engolindo versos

E poesia

Procurando um corpo simples

Sem memória

Nem estória… para habitar o meu esqueleto desventrado…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

sexta-feira, 1 de Janeiro de 2016

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

A diáfana agonia encostada à janela da Sala de Jantar


Estes solavancos que a vida me dá

O transporte para o Inferno

O apeadeiro do desejo

Desgovernado rio abaixo

A cidade dos mortos

Recheada de desenhos

E palavras

Gastas…

A primeira alvorada

O último comboio para a solidão

Quase de partida

Como um foguetão

Quase de se esconder

Como o amor

O dia ameno

Sereno

Como uma criança sombreada pelos esqueletos da selva

A montanha

A diáfana agonia encostada à janela da Sala de Jantar

E eu sentado na tua sombra

Puxo de um cigarro suicidado pelo cansaço

E ignoro-o como se ele fosse o mal dos meus pecados…

Como se eu tivesse pecados

Originais livros

E plantas num rés-do-chão manhoso

Daqueles que ao acordar se percebe que o dia é uma canseira

Uma tristeza

Sobre a mesa

Ao cair do dia

Na aldeia

Sofro

Muito

Sofro o suficiente sofrido das gaivotas em flor

Os jardins suspensos na noite embriagada

O dono da esplanada

“vamos embora seus cabrões”

E fomos

Tristes

Tristes

Por percebermos que éramos cabrões de primeira classe…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quarta-feira, 30 de Dezembro de 2015