sábado, 28 de novembro de 2015

A água a luz o mar e o vento alimentam-se dos nossos corpos felizes de sofrer


Escrever-te

Sem saber que te escrevo

Nunca quis escrever-te…

Sabendo que o devo

Fazer

De vez em quando

Escrever

Te escrever

Sem o fazer

Fazendo não o querendo

A água a luz o mar e o vento

Alimentam-se dos nossos corpos felizes de sofrer

Às vezes sofremos

Às vezes inventamos que sofremos

Depois regressam as palavras de escrever

E as palavras de sofrer

E ficamos

Aqui

Impávidos

Deitados nesta secretária velha em melódico pinho…

Escrever-te

Sem saber que te escrevo

Nunca quis escrever-te…

Sabendo que o devo

Fazer

Te escrever

Sem o fazer

E no entanto

Escrevo-te

Pensando que não o sei fazer

E faço-o

E escrevo-te…

Não escrevendo

O escrever

Antes de morrer.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

sábado, 28 de Novembro de 2015

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Palavras de um verme


Enclausurado neste convento de paredes rochosas

O meu corpo pertencendo às tuas garras de marfim

Sentinela das planícies de capim

Em busca dos pássaros assassinados por uma louca mão…

A eira sentindo o esqueleto do frio

Escorrendo nas frestas da solidão

Os barcos sem rio

O rio sem mão

Nas tristes flores pegajosas

Que a madrugada alimenta

São as noites rugosas

Que o meu coração desalenta.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

sexta-feira, 27 de Novembro de 2015