terça-feira, 20 de outubro de 2015

Palavras rasgadas


Quem éramos que hoje não somos o que éramos!

Quem somos, hoje, aqui, quando ontem éramos apenas alguns pedacinhos de vidro, sós, tristes, emagrecidos, algures numa cidade, perdidos, esquecidos…

Quem éramos que hoje não somos,

O que éramos, o que fomos,

Nada,

Pó,

Poeira enlatada,

Porcaria,

Caldeirada,

Palavras rasgadas,

Éramos,

Não o somos mais…

O que éramos,

O que fomos,

Talvez um dia seremos…

Restos de jornais,

Amantes,

Não amantes,

Jamais…

Porque nunca seremos o que éramos,

Porque somos aquilo que nunca fomos

E nem quisemos ser,

A dor,

O prazer,

A cama,

O teu corpo,

Era,

E hoje recordamos o que éramos…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 20 de Outubro de 2015

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

A ténue solidão


(Liberdade para Luaty Beirão e seus companheiros)

 

O amor encastrado nos teus lábios,

Os olhos vomitando lágrimas nos rochedos cansados,

O triste olhar das madrugadas,

Que só as gaivotas conseguem perceber,

As tuas minhas palavras,

Sem vontade de as escrever,

Sentido,

Sonhando,

Não saber

Sabendo

Que o teu corpo mergulha na cânfora manha acorrentada,

Uma lápide,

Sem nome

Sem nada…

Não quero a textura do aço

Quando sou chamado à noite sem razão,

Grito,

Sofro,

E abraço

A ténue solidão…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 19 de Outubro de 2015

domingo, 18 de outubro de 2015

O medo da paixão


Fontinha – Outubro/2015
 
 
Ontem tinha medo do escuro,
Meu amor,
Hoje tenho medo da paixão,
Dos pássaros mais tristes que habitam o meu jardim,
Ontem, ontem não,
Meu amor,
Hoje tenho medo das pedras, porque não falam,
Porque, também elas, tal como eu,
Não amam,
Nem choram,
Ontem sentia na minha mão o cansaço da vida,
A não alegria de viver,
Fingia a partida,
Fingia amar sem saber que fingia…
Fingir que não sofria,
Hoje, meu amor,
Hoje tenho medo da paixão…
Sofrida,
Vencida,
Porque ontem tinha medo,
Medo do medo,
Mas hoje, meu amor,
Hoje aprisionei o medo num cubo de vidro,
Vejo-o, toco-lhe nas faces…
Mas ele deixou de pertencer aos vivos…
E é apenas uma palavra sem significado.
 
Francisco Luís Fontinha – Algures fora de Alijó
Sábado, 17 de Outubro de 2015