sábado, 14 de março de 2015

África


África inventada nas minhas veias
um rio infinito de cheiros
sensações
sentidas lágrimas esquecidas numa qualquer sombra
o capim em silêncio
o musseque dorme nos braços do luar
gritam as almas dos muros invisíveis
como uísque voando sobre a planície dos sonhos
as gaivotas escritas nos livros da saudade
as cavernas secretas da paixão das pedras
em destaque
o orgasmo embriagado na penumbra madrugada
ouvem-se as migalhas do sofrimento
caindo no zinco empobrecido
que só os homens sabem construir...
as palavras de uma espingarda disparada pelo poeta
corações de chocolate em decadência
como princesas sem nome
sem Pátria...
os barcos comestíveis
nas mãos de uma criança
e sem o perceber
ela
África
um rio infinito de cheiros
sons
e beijos em lábios de serpente.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 14 de Março de 2015

Livros em viagem


O suicídio embrulhou-o na almofada do sono
como quem semeia numa fogueira
palavras
e desenhos
e corpos
e beijos
o desejo
meu amor
a saudade dos tentáculos teus braços
quando olhávamos petroleiros brincando no Tejo
o vento
levava o teu cabelo até à outra margem...
alguns minutos
poisava na minha mão
estrelas
os teus olhos
Belém fervilhava
como um campo de centeio
nos corredores da cidade
os livros em viagem
atravessavam a ponte
sem autorização
sós
o café
e a água
a esplanada em cio
quando ouvia o uivar de uma gaivota
em todos os finais de tarde
sós
o café
e a água
estrelas
nos teus olhos de rosa embalsamada
o jardim nos esperava
e abraçava
com corrente de aço pinceladas de silêncio...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 14 de Março de 2015