segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Vogais do amor


Abandonas-me como se eu fosse um pássaro
que de dentro de uma gaiola
ouve docemente as palavras do amor
em amar
às coisas belas que as estrelas semeiam nas mãos da Cinderela paixão
do amor
em amor
tua minha cansada noite de solidão,

abandonas-me como se eu fosse as singelas palavras
voando sobre os telhados de vidro que o desejo constrói em tua cidade
não há ruas simples e perfeitas
nos olhos envenenados pelo medo
um boneco torna-se em vida humana
quando do muro pincelado de amarelo
acorda a revolta que os teus lábios de seda
desenharam nas pedras frias da calçada,

abandonas-me
que de dentro de uma gaiola
das tardes sobejam os desassossegados braços das rectas paralelas
e no infinito
misturada com as sílabas
as vogais de açúcar
que o bolo do amor
deixou sobre a mesa.

(poema não revisto)


Em destaque no Sapo Angola
Blogue Cachimbo de Água

domingo, 2 de dezembro de 2012

Um coitado em silêncios beijos


As avenidas da solidão
que desço depois do pequeno-almoço
olho-me quando entram em mim as flores do inverno
e as tempestades que a noite putrificou dentro das esquinas complexas minhas mãos
olho-me
sentado
inerte
morto
um coitado
que passeia na tarde os murmúrios em ácidos cansaços beijos
ele descobre que o amor vive na escuridão das palavras
derretidas no açúcar invisível dos relógios de pulso,

silêncios beijos
os teus
sobre a impune geada das terras áridas transmontanas
a lareira morre na insónia tua boca
os desejos longínquos suspensos no tecto do prazer
prometendo números de circo
debaixo das árvores abandonadas pelas desertas esplanadas da madrugada
olho-me
sentado
inerte
morto
um coitado,

e não tens vergonha dos meus lábios de algodão
semeados na planície ínfima que a vida constrói
em cordões de sémen quando os vãos de escada descem às catacumbas dos sexos
magoados nas cansadas flores do inverno
as estrelas
as flores
o inferno
vêm dos distantes cais dos barcos de papel
silêncios beijos
os teus
os nossos corpos em decomposição
amam-se e desejam-se e no húmido pergaminho se transformam em poema.

(poema não revisto)