terça-feira, 6 de novembro de 2012

E será que me ouves?


Trazes de ti as chaves complexas da paixão
o vidro da madrugada nas árvores ou o amor
que submerso nas coxas do rio
o púbis equilátero do silêncio
na mão do espinho
à boca confusa da maçã
quando se desembaraça da gravidade
grave gravíssimo o planalto dos sonhos

e trazes de ti as chaves
da paixão e descem as gotinhas de desejo
na pele adensada de moluscos e fios de luz
quando da cidade choram as pontes
e todo o aço saudável
derrete na mão de deus
e dizes de ti em ti
os cansaços fictícios que os teus lábios desenham no leito dos amantes indefinidos

os ausentes
os oprimidos
os desgostosos dias de cimento
entre ventos e velas de mármore
em lápides
sem alimento
trazes de ti as chaves complexas da paixão
o vidro da madrugada nas árvores ou o amor

vem vêm vem ao destino marcado no xisto
vêm as águas preguiçosas do Outono
vêem-se águias e gaivotas e barcos
nas abelhas enferrujadas
vem vêm vem ao meu encontro
a tua língua sílaba doirada
em sol e da lua
à Primavera desejada...

E será que me ouves?

Francisco Luís Fontinha / 06-11-2012

(poema não revisto)

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A paixão das árvores e silêncios parvos


Saborearei as luzes desejos que no teu corpo vivem
as estrelas de pétalas e sorrisos amargos
que eu transformo em silêncios parvos
saborearei os enjoou-os das palavras sem nome
sobes as escadas cansadas
em fome
a maldita alvorada
quando pela calada
te vêm buscar e desapareces entre as aspas do paragrafo sonolento
do texto escrito na porta de entrada da casa
da tua misera casa de ossos de pano
e janelas de papelão,

Desenhas flores nos muros que circundam as sandália de couro
do miúdo da aldeia empenhado no banco de jardim
alguns euros para o transporte desassossegado dos carris paralelamente
com abraços no infinito
dois homens com chapéu de palha e uma mão de cigarros embainhados nas madrastas hortas
das planícies orvalhadas das meninas de cabelo loiro
e olhos azuis fingindo alegrias e sílabas de seda
oiço-te das luzes desejos
saborearei nas tuas coxas os poemas construídos nos sonhos
quando o mar te entra em casa
e o teu ventre cinzento
se alicerça nos espinhos da morte...

(poema não revisto)

As finas lâmpadas de solidão


A circunferência das palavras gastas
nos voos invisíveis das gaivotas de aço
sobre o infinito mar de árvores
que a lentidão do vento alimenta
ouvem-se os sofridos olhos da lua
nos gemidos dele
o pássaro cansado do nocturno poema
sobre a mesa do café
homens cambaleiam cinicamente
contra os cortinados encarnados da dor
às lágrimas de sangue embaladas
nas finas lâmpadas de solidão.

(poema não revisto)