terça-feira, 9 de outubro de 2012

Palavras ilegíveis


Húmus meu cansaço
alegremente apaixonado
das árvores com braços de chocolate
a mão madrugada em flor
o cheiro
entre lábios e beijos da cidade do sofrimento,

absorvia-se a noite nos cigarros inventados
por um louco à janela do poema
vem do mar a claridade húmida das palavras
deitadas sobre os lençóis de linho
coitadas
as palavras
sem madrugada
sem carinho,

escrevia e deixou de escrever
nas paredes da inocência
brincava alegremente com os ossos de papel
a que chamavam esqueleto de livros
duzentas e seis páginas indesejadas pela boca doente
dos homens que lutavam contra a ditadura do aço inoxidável,

a garganta da morte mergulhava nas pequeníssimas gotículas de sémen
que das estrelas do sonho
acordava a aldeia encalhada no cais da solidão
e a janela do poema
partilha as flores que a terra alimentou
com cinco palavras ilegíveis.

(poema não revisto)

Os teus olhos em noite vestida de azul


Numa tela vazia
nasce a noite vestida de azul
descem do céu os anzóis clandestinos do sorriso

numa tela vazia
vou construindo a minha vida de nada
e no rio cansado que dorme à minha porta
brincam as sombras semeadas pela tua mão perfeitamente cintilante
que a noite vestida de azul ilumina
e transforma em corpo de mulher

azul
perfeitamente cintilante
a noite onde escreves os gritos de revolta
na areia fina e escura
o meu nome alicerça-se nos silêncios de Angola
azul
a noite
fina e escura
em corpo de mulher
numa tela vazia
sem cor
os teus olhos.

(poema não revisto)

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Cais do amor


Um dia vou esquecer-me das palavras
um dia os livros deixarão de me olhar
como todos os dias
nasce a luz em finíssimos fios de neblina

um dia a espada da morte
entra no meu peito
e deixo de ouvir a musicalidade das manhãs
um dia os livros
esquecerei os centímetros de solidão
e os milímetros de desejo

sem perceber que um dia
as palavras
um dia dos livros

os lábios doces da Lua apaixonada
viverei desacorrentado
sentado
esperando por ti no cais do amor...

(poema não revisto)