segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Como tantos outros dias

Submeto-me à inquietação líquida das palavras inventadas
quando deixas cair das tuas mãos
os pequenos silêncios embrulhados em lágrimas de açúcar

fico cansado ao escutar os teus murmúrios de insónia
oiço as palavras inventadas suspensas no tecto da solidão
e vejo na abobada celeste os finíssimos sorrisos do final do verão

há barcos de papel sobre a imunda minha secretária de madeira morta de incenso
há marés de olhares em todos os livros que li
e possivelmente deixarei de ler
(cansei-me dos livros e das noites sem estrelas de abelhas)
ou então aproveitarei todos os segundos para procurar nas palavras
os búzios invisíveis dos visitantes nocturnos
que me procuram sem que eu perceba que nos seus lábios
existem sílabas de suor com chá e torradas

segunda-feira
um dia de “merda” como tantos outros dias de “merda”

há cigarros
sobre a minha secretária de papel
onde brincam barcos de madeira
hoje
segunda-feira
um dia perfeitamente estúpido e sem cabeça.

(poema não revisto)

os vinhedos desassossegados da manhã

quando o corpo é um amontoado de destroços orgânicos
e o coração uma pedra de xisto romântica
entalada entre a montanha e o rio
à espera que desça a noite sobre os vinhedos desassossegados da manhã

quando o corpo se ergue para se abraçar na longínqua solidão
e o vento suave inventa bolhas de sabão
e palavras de amor

quando o rio se transforma em jardim
e as árvores vestem-se de pássaros
e nas ruas da cidade
constroem-se sonhos de meninos

(poema não revisto)

domingo, 2 de setembro de 2012

livres como os pássaros pintados no mural do esquecimento

atravessávamos o espelho do amor
e com a tua mão entrelaçada na minha
viajávamos como crianças loucas
em direcção aos pontos de luz

brincávamos com os teus cabelos suspensos no topo das estrelas
e um silêncio lânguido crescia no coração de uma flor
vivíamos dentro de uma seara sem fronteiras
e éramos livres como os pássaros pintados no mural do esquecimento

os rios emagreciam
choravam

e longas filas de mel
adormeciam nas janelas da noite
os rios emagreciam
como emagrecem os meus sonhos

(e tenho a certeza que nunca irei abraçar-te).