sábado, 25 de agosto de 2012

Sem palavras os textos nas pálpebras da noite

Absorto o meu corpo
às árvores sem dentes
na boca um poema morto
nas mãos o perfume das madrugadas ausentes

(escrevem-me sem palavras
textos nas pálpebras da noite)

e oiço a voz do medo
dentro do guarda-fato
o meu corpo
absorto
amanhã cedo
cansado e farto

Absorto o meu corpo
às árvores sem dentes
morto

absorto
os pássaros disfarçados de barcos amargurados
suspensos nas nuvens do Tejo
morto
o meu cadáver em linha recta
duas linhas rectas paralelas
passeando pelas ruas de Lisboa
o infinito
os bares onde gajas boas
dormiam e fingiam orgasmos sobre as mesas de cabeceira
entre Cais de Sodré
e a Ajuda

ajuda coisa nenhuma
apenas um empecilho na algibeira
e meia torrada ao pequeno almoço
sem jeito
eu
morto
absorto
no declínio do amanhecer...

(poema não revisto)

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A casa das estrelas com olhos verdes

Conheci uma casa
onde habitava uma estrela
louca
com olhos verdes
e deliciosa boca
era uma casa pintada de silêncio
e via-se da calçada
o rio à sombra da noite

e quando chovia

e quando chovia
a casa voava sobre o mar
e ao deitar
o amor poisava
sonhava
que acordasse o dia.