terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Ossos


84,4 x 59,4 – Francisco Luís Fontinha


Duzentos e seis ossos
Desgovernados
Esfomeados
Cansados

Duzentos e seis ossos
Desiludidos
Esmigalhados
Fodidos…

Duzentos e seis ossos
Presos a um cordel
Nos céus de Luanda
Ossos e ossos e ossos

Poeira misturada com mel
E eu pergunto-me Afinal quem manda?
Duzentos e seis ossos e ossos e ossos
Sentados à varanda

E eu vendo os meus ossos
(observações)
Vendo os meus ossos a pronto pagamento
E não aceito euros
Nem cheques (Só Dólares)
Vendo os meus duzentos e seis ossos
E ainda ganham de prémio um jumento…

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

Vida em comum

Oito anos meu deus, dois mil novecentos e vinte dias de vida em comum, dia e noite, quantas lágrimas derramei nas suas mãos, e quantos suspiros, meu deus, oito anos, e quando eu precisava ele ouvia-me, e quando ele vinha com as suas birrinhas, eu, eu pacientemente escutava-o e acariciava-o como se fosse uma criança, e guardava todos os meus segredos,
E hoje e hoje descubro que ele é um impostor e um falsário e que não passa de um mentiroso, mentiroso como tantos outros,
E se algum dia descobrirem que o vosso portátil de marca comprado numa loja de marca, oito anos meu deus, oito anos de vida em comum, e se algum dia descobrirem que afinal o software do vosso portátil de marca é falsificado, não estranhem, porque o Windows XP ao fim de oito anos, oito anos meu deus, ao fim de oito anos diz-me que é falso,
Apetece-me gritar…
- Viva o LINUX,
“E se um desconhecido de repente lhe oferecer flores isso é… “, meu deus, oito anos, dois mil novecentos e vinte dias de vida em comum, “isso é VIGARICE”,
Falsário e mentiroso, mentiroso como tantos outros…

(texto inspirado numa amiga)

84,1 x 59,4 – Francisco Luís Fontinha

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

Ruas invisíveis

Em todos os silêncios
Te encontro
De todas as ruas invisíveis
Em todos os barcos adormeces
De todos os mares desgovernados
Em todas as sombras caminhas
De todas as acácias envelhecidas
Tristes
Cansadas
Em todos os silêncios
Te encontro
De todas as madrugadas

84,1 x 59,4 – Francisco Luís Fontinha