sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

E deixo de ser eu – Luís Fontinha


Poema e desenhos de Luís Fontinha
Música:
O Chá - Tchaikovsky - Royal Philharmonic
Trepak - Tchaikovsky - Royal Philharmonic

E deixo de ser eu

E levita o meu desgovernado corpo
Até à copa das árvores estacionadas junto ao rio
Um cacilheiro em arrotos
Finta as palavras do poema
E dentro do nevoeiro
Evapora-se pelo vórtice do desejo

O poema desfaz-se em pedacinhos de sílabas
E dos fluídos das vogais
Uma turbina zurra orgasmos na maré
A mecânica adormece as estruturas reticuladas em desânimo…
Que vagueiam nas ruas da cidade
E aos poucos desistem de viver

O meu corpo desgovernado
Na copa das árvores
Abraçado a integrais complexos
E nas minhas mãos
E no meu peito
A noite enterra-se e dorme

E deixo de ser eu.

59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A morte

A morte
Uma fechadura que se encerra
Na porta de entrada da vida
A morte
Deitada sobre o alpendre da manhã
Suspensa nos cortinados da lua
A morte
O sussurro do vento
Nas paredes metálicas do silêncio

A morte
Vestida de madrugada
Na sombra das gaivotas
Antes de acordarem

A morte
Quando duas retas paralelas se encontram no infinito
E se beijam
E se abraçam

À morte.

59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)