segunda-feira, julho 07, 2025

a vírgula dos teus seios no rio minha mão

 

Procuro a vírgula dos teus seios no rio

minha mão

cansei-me de a procurar, cansei-me de te olhar

cansei-me deste mar, quando o outro mar

se afunda aos meus olhos

como se eu fosse um verme, um miserável perfeitamente, tolo

cansei-me das palavras, dos outros moinhos, e dos ventos sem sangue, e das sílabas, sem saber o que fazer, em caso de incêndio

em caso de incêndio; quebrar.

domingo, julho 06, 2025

Positrão

 

Talvez seja um positrão, talvez seja o sono

a espreguiçar-se, na boca de um electrão

podia ser o vidrão, ou as sobejantes memórias de várias garrafas de uísque

talvez seja um círculo, um círculo com olhos verdes e mil sonhos desfeitos

talvez, até, talvez até tenha sido um preguiçoso melão em busca do tempo perdido

talvez seja o proust, no sono de uma lágrima

talvez seja uma clarabóia despedindo-se

da luz

ou de ontem quando a noite corria sobre o chão invisível da tua sombra

 

Talvez seja tudo

talvez, talvez não seja nada.

Tocas na minha mão...

Tocas na minha mão envergonhada da chuva que não tenho, na lágrima insular e derramada que o rio dos teus seios transporta em cada amanhecer,

da flor do mar em fogo os teus lábios a arder,

de que a minha mão tem medo,

da minha mão em te tocar, e em te querer.

Tocas na minha mão apenas pelo simples acaso de a tocar, sem que uma estrela te olhe, ou te possa abraçar,

sem que o mar dos teus olhos me diga o que te escrever,

ou em que luar se esconde a alegria do teu olhar, tocas na minha mão, e finges não a tocar.


sábado, julho 05, 2025

Vírgula

Havia uma vírgula que ouvia e que também o sentia, nos carris do silêncio, que também era um comboio de espuma, no vazio esperma, de uma cama vazia, na fotografia também nua ela, de tão rouca a lua tua, na minha boca

A despia...


Que a voz me escuta

 

que a voz me escuta, na dita

e maldita,

cicuta

que oiço das sílabas do teu cabelo, o vento

que traz também o selo, a carta que foi escrita, e que nunca saiu da gaveta

de uma secretária, fria e escura e sempre aflita

na voz que me escuta, que à tua voz roubo a labuta

de uma puta, da puta da minha vida

que a voz me escuta, na dita

e maldita,

gruta.

do outro lado, da lua dos teus olhos

 

do outro lado, da lua dos teus olhos

no outro menino, sem o destino

de ser o mar, dos teus olhos

na seara loira de uma alvorada, sem remetente, sem sequer uma simples morada, ou uma janela, mesmo que esteja encerrada

 

do moinho, sentia o fio loiro de sangue da tua nudez, da nossa palavra, despida e nua

na lua, do outro lado

da lua dos teus olhos, uma esquina de luz em busca de uma rua

e a tua voz é a enxada, que se crava, que se rasga

na pele do meu corpo

ou no rio, dos teus seios

 

do outro lado, da lua dos teus olhos

a mulher que devasta a sombra, que despe o dia em pedacinhos de pão, para que a flor mais bela da primavera, também ela um dia

do outro lado, da lua dos teus olhos

seja ela a lua dos nossos olhos.

há quanto tempo, meu amor, que não temos tempo!

 

há quanto tempo, meu amor, há quanto tempo, não tocas no meu tempo

há quanto tempo, não escreves, no meu tempo, sempre

sem tempo

há quanto tempo, meu amor, há quanto tempo, não beijas o meu tempo

 

à procura, do teu tempo

há quanto tempo, não me dizes, que tens tempo

para o meu, tempo

há quanto tempo, não escreves no meu tempo, sempre

sem o teu tempo

 

há quanto tempo, não me dizes que tens o meu tempo

há quanto tempo não me trazes o vento, também ele, apressado

e sem tempo

 

há quanto tempo, meu amor, que não temos tempo!