sábado, 21 de setembro de 2024

desabafos cansados

 

desabafo com as sílabas cansadas

emprestadas por ti

ontem

 

desabafo escrevendo asneiras nas paredes do cansaço

começando por mim

terminando

sempre

sempre sem um simples abraço

 

desabafo sem perceber que perdi o teu corpo num paquete devoluto

perdido numa cidade

 

esfomeado

esquecido

e achado

por uma galé desgovernada

que levita

e acredita

no poder de uma granada

uma bela granada de simples palavras com asas...

das tristes palavras de escrever

 

pensava que eras uma tela esquecida na parede da minha insónia

dormia acreditando nas cores abstractas que fingem alimentar os teus olhos de granizo

pensava e acreditava

nas personagens sem nome que vagueavam antes de adormecer

pelo quarto sonolento das noites em solidão

como os vidros da minha janela

em cacos

pedaços

como um pobre coração

dentro do peito da saudade

correndo e batendo

os sargaços das tristes palavras de escrever


 

Cinco anos da tua ausência.

cortinado amanhecer

 

seus olhos em movimento curvilíneo

seus braços baloiçando como uma criança em queda livre

voando sobre os sons de um piano desafinado

há uma janela aberta com sombra sobre a cidade do medo

e ela

ela esconde-se nos abraços cerrados do cortinado amanhecer...

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

A fuga inventada

 

Inventei distâncias para fugir de ti

criei dentro de mim

personagens invisíveis

bonecos e bonecas em pura porcelana

vivi menti

como um agarrado jardim

às árvores comestíveis

dos corpos mortos na lareira chama,

 

Como me arrependo das caminhadas pela montanha

comendo ervas daninhas

ou aguentando o castigado castigo

do homem com cabeça de vidro

dormíamos inventando prazeres

e pequenos gemidos

que a noite engolia

e o dia

o querido dia transpirava

vomitava

contra as ardósias das ruas em desalinho

dentro de mim invenção da manhã doente e sonolenta,

 

Inventei o coração de prata

e o orgasmo matinal

inventei os relógios de sol

e os telhados de lata,

 

Inventei distâncias para fugir de ti

desenhei versos de amor

nas paredes insolentes

dos corpos com colares de iodo

inventei a loucura

e as enfermarias onde acorrentam Marias

e a mim

que inventei as árvores com folhas de papel...

palavras de sofrer

 

há um livro sem nome

num corpo sem destino

há palavras com fome

na boca de um menino,

 

há um livro de horror

dentro da noite ancorada

há personagens com dor

à procura da madrugada,

 

há um livro Há um livro cansado

na janela do amanhecer

um livro apaixonado

pelas palavras de sofrer...

e ao longe o mar de verdade

 


Procurei-te entre ruas

e ruelas da cidade

fui ao mar

caminhei sobre a areia preguiçosa da tarde

procurei-te

e não encontrei os versos dos teus lábios

 

procurei-te

e ao longe o mar de verdade

hoje nos teus cabelos loiros (loiros com silêncios de castanho)

no vento

em seara de desejo

procurei-te

e encontrei o teu perfume

embrulhado no teu sorriso

 

fui ao mar

hoje

hoje de verdade.