sexta-feira, 20 de setembro de 2024

A fuga inventada

 

Inventei distâncias para fugir de ti

criei dentro de mim

personagens invisíveis

bonecos e bonecas em pura porcelana

vivi menti

como um agarrado jardim

às árvores comestíveis

dos corpos mortos na lareira chama,

 

Como me arrependo das caminhadas pela montanha

comendo ervas daninhas

ou aguentando o castigado castigo

do homem com cabeça de vidro

dormíamos inventando prazeres

e pequenos gemidos

que a noite engolia

e o dia

o querido dia transpirava

vomitava

contra as ardósias das ruas em desalinho

dentro de mim invenção da manhã doente e sonolenta,

 

Inventei o coração de prata

e o orgasmo matinal

inventei os relógios de sol

e os telhados de lata,

 

Inventei distâncias para fugir de ti

desenhei versos de amor

nas paredes insolentes

dos corpos com colares de iodo

inventei a loucura

e as enfermarias onde acorrentam Marias

e a mim

que inventei as árvores com folhas de papel...

Sem comentários:

Enviar um comentário