Uma laranja nunca saberá
em quantas partes vai ser cortada. A faca saberá sempre em quantas partes
cortou a laranja.
Não sei em quantas partes
se divide o meu corpo, mas cada parte do meu corpo, em muitas metades, é o
pensamento da laranja.
O sono, quase sempre,
tomava o peque-almoço na esplanada da praia.
Às primeiras horas de
vida, o mar é constante, o mar é a música que alegra o teu cabelo,
Quase sempre
há uma nuvem sobre o
jantar da noite passada, sobre a mesa descalça, quase sempre sonolenta
entre os parêntesis do
inferno.
Quase sempre é noite
cerrada, quase todos os dias, a noite
é um pedaço de sombra
dos dias que sobejaram à
sombra.
O sono, quase sempre,
é o sono deste livro, na
vaidade que acelera a mumificação do cansaço. Quase sempre, sou assim.
o baloiço é um campo
magnético, e eu sou uma pedra, e ele é e masturba-se nos finos dedos da noite
sabes, todas as estrelas
são em papel.
um livro que não sabe o
que está a fazer sobre a minha mesa-de-cabeceira, uma garrafa de água que foi a
criança mais feliz das terras de dongo e da matamba. eu. que escrevo e vejo do
outro lado da rua
uma mulher nua, à janela.
sobre o peitoril, uns finos e pequenos seios cinzentos, aprisionados ao soutien
a cada último sábado do mês. hoje.
a lua, assim-assim, quase
a desmaiar. o sexo dele
cresce por entre os
calções de vento quase ao final da tarde,
e que tarde,
as abelhas mergulhadas no
mel.
feldspato adeus, o
milagre. sítios incríveis para colocar sobre a secretária,
e ele,
em frente ao espelho,
observa o sexo feroz
capaz de correr um ano-luz em cada segundo. o piqueno, enlouqueceu. tudo indica
que sim, sim senhor
- como te chamas?
- qual é o seu nome?
sobre a mesa,
um rio de vida.
mulher mãe
sem tempo para ser mulher
mulher guerreira
que luta
labuta
e não tem medo da insónia
mãe mulher madrugada
do escuro faz uma enxada
com a lua constrói a
liberdade
mulher mãe
sem medo de ser mulher
sem medo de ser mãe