sexta-feira, 30 de agosto de 2024

 

Uma laranja nunca saberá em quantas partes vai ser cortada. A faca saberá sempre em quantas partes cortou a laranja.

Não sei em quantas partes se divide o meu corpo, mas cada parte do meu corpo, em muitas metades, é o pensamento da laranja.

 

O sono, quase sempre, tomava o peque-almoço na esplanada da praia.

Às primeiras horas de vida, o mar é constante, o mar é a música que alegra o teu cabelo,

 

Quase sempre

há uma nuvem sobre o jantar da noite passada, sobre a mesa descalça, quase sempre sonolenta

entre os parêntesis do inferno.

 

Quase sempre é noite cerrada, quase todos os dias, a noite

é um pedaço de sombra

dos dias que sobejaram à sombra.

 

O sono, quase sempre,

é o sono deste livro, na vaidade que acelera a mumificação do cansaço. Quase sempre, sou assim.

 

coloco um beijo no teu ombro. despeço-me dos teus lábios, deixando no teu seio,

a palavra; amo-te.

 

O MAI foi assaltado. É isso, parece que assaltaram o Ministério da Administração Interna, aquele, sabem, aquele que tutela as polícias…

 

é quase dia, e deixarei de ver e de conversar com as estrelas.

um pequeno silêncio de espuma cresce na minha mão.

 

o baloiço é um campo magnético, e eu sou uma pedra, e ele é e masturba-se nos finos dedos da noite

sabes, todas as estrelas são em papel.

um livro que não sabe o que está a fazer sobre a minha mesa-de-cabeceira, uma garrafa de água que foi a criança mais feliz das terras de dongo e da matamba. eu. que escrevo e vejo do outro lado da rua

uma mulher nua, à janela. sobre o peitoril, uns finos e pequenos seios cinzentos, aprisionados ao soutien a cada último sábado do mês. hoje.

a lua, assim-assim, quase a desmaiar. o sexo dele

cresce por entre os calções de vento quase ao final da tarde,

e que tarde,

as abelhas mergulhadas no mel.

feldspato adeus, o milagre. sítios incríveis para colocar sobre a secretária,

e ele,

em frente ao espelho,

observa o sexo feroz capaz de correr um ano-luz em cada segundo. o piqueno, enlouqueceu. tudo indica que sim, sim senhor

- como te chamas?

- qual é o seu nome?

 

sobre a mesa,

 

um rio de vida.

mulher

 

mulher mãe

sem tempo para ser mulher

mulher guerreira

que luta

labuta

e não tem medo da insónia

 

mãe mulher madrugada

do escuro faz uma enxada

com a lua constrói a liberdade

mulher mãe

sem medo de ser mulher

sem medo de ser mãe