Flor em teu cabelo, do teu loiro cabelo
adormecido, paisagem que me abraça quando a desgraça,
Me invade,
Flor em teu cabelo, do teu cabelo loiro
flor,
Nas minhas mãos indefinidas,
Na promessa de um beijo,
Na flor do teu cabelo.
27/11/2023
Flor em teu cabelo, do teu loiro cabelo
adormecido, paisagem que me abraça quando a desgraça,
Me invade,
Flor em teu cabelo, do teu cabelo loiro
flor,
Nas minhas mãos indefinidas,
Na promessa de um beijo,
Na flor do teu cabelo.
27/11/2023
Visita-me o dragão da
noite e traz com ele os teus olhos,
São dois pedaços de fogo,
horário em rotação quando dentro deste cubo de vidro, onde habito, acordam os
teus lábios,
Dou-te beijos,
E desenho palavras no teu
cabelo.
Às vezes, odeio o dragão
da noite.
Às vezes, amo o dragão da
noite, como te amo, serpente da manhã. É tão triste, saber que no meu jardim há
falsas flores, com falsas cores,
Às vezes, peço ao dragão
da noite que me traga também o silêncio e as espadadas do general, espetava-as
no peito,
E voava para os teus
braços.
Habito nesta vida de engano,
de tristeza, onde durante a noite recebo a visita do dragão, onde durante a
noite, sentado numa cadeira, olho o relógio que alguém que já cá não está
esqueceu na parede da sala,
E deixo de contar as
horas;
Apenas os teus olhos são
estrelas.
Visita-me o dragão da
noite e, com ele, vêm as canforas ribeiras do outro lado da rua, uma menina
espera o autocarro, tem saia azul e camisa com falsas flores, aperta o cabelo
com um fino fio de silêncio, e parece feliz, e atá parece que tem os teus olhos
no rosto…
Da cor do fogo, meu amor!
27/11/2023
Não consigo matar o sono,
o sono não morre, disparo uma bala contra ele, e ele, feliz, ao outro dia,
depois da tarde se esconder na tua mão.
Tento outras maneiras e
feitios de o matar, mas o gajo é teimoso, mas o gajo não morre,
Parece o tempo.
Parece a chuva, parece a lezíria
perdidamente de sono, depois de o vento trazer as ancoradas cinzas do meu
corpo,
Os sonhos,
Dos sonhos que sonho, nos
sonhos de sonhar.
Não consigo matar o sono,
não consigo matar este barco que habita dentro de mim, não consigo matar o
sono, mesmo que às vezes ele se finja de uma outra coisa e entra em mim como se
fosse uma lança…
Tristes, são os teus
olhos depois da chuva.
Do outro lado da rua, a
minha rua, deste lado da rua, nada,
Pensando bem, o sono é
imortal, e nunca será um cadáver,
A não ser,
A não ser que o sono
tenha sentimentos, como eu, a não ser que o sono tenha manias, como eu, a não
ser…
Que este chocolate que
como termine, que estes cigarros que fumo, morram nas minhas mãos, e que esta
lareira cesse de me amar,
Não morre o sono, mas
morro eu,
De sono.
Não consigo matar o sono.
Que chatice.
Não consigo encomendar um
simples livro, porque me apetece e às vezes não me apetece, quando me apetece
ouvir-te e pego no tablet…
E embrulho-me nos teus
olhos.
E embrulho-me nas tuas
sílabas.
26/11/2023
Odeio-me, mas preciso
deste corpo para escrever, odeio-me, mas preciso deste corpo para desenhar, odeio-me,
Mas preciso de mim, para
viver.
Odeio esta lareira, mas
preciso dela para me aquecer,
Odeio as minhas mãos,
Mas preciso delas,
Para acariciar o teu
cabelo.
Odeio a geada, mas
preciso dela para pensar, enquanto fumo cachimbo e caminho…, e penso, que
preciso do meu corpo, mesmo odiando-o,
Odeio-me, mas preciso
deste corpo para brincar junto ao mar, preciso deste corpo para te amar,
Mesmo me odiando,
Preciso deste corpo para
ser,
Para sonhar,
Para cantar a canção do
te odeio…
Odeio este corpo enquanto
como chocolate, e gosto tanto de chocolate, enquanto me aqueço, enquanto penso
que este corpo nunca me pertenceu, no entanto, tenho-o e odeio-o, odeio este
corpo e mesmo assim, tenho-o de transportar, e vou ter de o odiar.
Odeio os livros da minha
biblioteca e, no entanto, amo todos os livros da minha biblioteca,
Odeio este corpo, com
chocolate, sem chocolate, de manhã, ao acordar, à noitinha, quando dispo este
corpo de penduro-o no cabide até ao outro dia,
Odeio este corpo, quando
dorme, quando está acordado, quando está luar ou quando está a chover,
Odeio-me, mas preciso
deste corpo para escrever, odeio-me, mas preciso deste corpo para desenhar,
preciso deste corpo,
Preciso deste corpo para
te amar.
Mas preciso de mim, para
viver.
26/11/2023
Milhões de bocas na ânsia
do pão, milhões de vozes,
Na revolta de um povo,
Que sofre,
Com fome,
Que sofre,
Com o frio da vida,
Milhões de bocas se
revoltam,
Milhões de bocas,
Gritam,
E se sufocam.
Milhões de bocas aplaudem,
As milhões de bocas que
se ajoelham,
Milhões de bocas na ânsia
do pão,
Milhões de bocas e de
vozes…
Na despedida da
Primavera,
Milhões de bocas
Ferozes,
Milhões de bocas falam,
Das outras milhões de
bocas,
Nas milhões de bocas sem
sorte.
Milhões de bocas suplicam
às outras milhões de bocas,
Suplicam palavras,
Suplicam pedras,
Aplausos quase à moitinha,
Milhões de bocas se
despem
E fodem,
Tantas milhões de bocas,
Tantas alminhas.
25/11/2023
O universo é tão
complexo, belo, o universo talvez seja infinito, talvez não, e tudo isto
apareceu do nada, do quase invisível,
O universo é tão complexo
como o primeiro par de sapatos que calcei, ou o primeiro par de botas, que já
tinha seis anos,
Ou como o primeiro beijo…
O universo, é belo, é tão
belo como os teus olhos,
Sendo os teus olhos ainda
mais belos de que o universo.
O universo fascina-me, é
tão certinho, sempre no seu equilíbrio, imagina se a lua se constipasse, como
ficaria a terra?
Imagina uma dor de cabeça
no sol, como ficaria a terra?
O que me leva a concluir
que a morte de um pode ser a desgraça de todos,
E, no entanto,
O universo não quer
saber, não se interessa, pois se ele é a coisa mais bela das belas coisas,
Que existe no universo.
O universo é a paixão, é
a dor, é a alegria e o sofrimento,
Quando a noite é feia,
Quando a noite é insónia,
Quando a noite é negra,
Quando a noite é vento.
O sofrimento é o
universo, que se move, que caminha junto à praia, descalço, e com um livro na
mão,
O universo às vezes
parece uma enxada, descalça, nos socalcos no Douro,
E, no entanto,
As lágrimas de uns
Pode ser a alegria de
outros,
Que o universo faz o
favor de os deixar andar por aí…
Quando deviam andar por
aqui.
O universo é Deus, dizem
uns, os outros não se manifestam, e vão beber copos,
O universo é a música do
teu olhar, o universo é o amor dos teus lábios,
Quando o universo poisa
docemente a mão no meu peito e me diz,
Estou aqui,
Estou aqui para te
assassinar.
25/11/2023