sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Poema da manhã

 

Alguém dispara uma bala de silêncio contra o meu corpo frágil, e morro.

Fico feliz por morrer, fico tão feliz por morrer, como fico tão feliz depois de terminar o poema.

Sou tão feliz por escrever,

E tão feliz por te amar,

Como fico tão feliz depois de lançar ao mar as minhas palavras,

Alguém dispara contra mim,

Uma bala de silêncio,

E um pedaço de sono foge em direcção à montanha.

 

As minhas palavras, tal como o meu corpo, são frágeis,

São inocentes desejos,

Alguém dispara e oiço um estrondo, é o meu poema em pequenas explosões,

 

São as vidraças da minha janela em pedacinhos de insónia, fico tão feliz por morrer que até me esqueço da Primavera, e das flores, e dos pássaros,

Sou tão feliz por morrer, sou tão feliz por te amar, sou tão…

Sou tão invisível que as paredes da minha casa, da casa onde escondo os meus poemas, deixam de ter cor, deixam de ter nome, são invisíveis, tal como eu,

O poeta invisível.

 

Alguém dispara uma bala de silêncio contra o meu corpo frágil, e morro.

Fico feliz por morrer, fico tão feliz por morrer, como fico tão feliz depois de terminar o poema,

E o poema também morre, e o poema também ama,

Fico tão feliz por morrer que depois de partir, que depois de levantar voo sobre a cidade, sinto o orvalho impregnado nos meus ossos, nas minhas mãos,

E o poema depois de morrer, e o poema depois de partir,

Esconde-se, tal como eu,

Nos teus olhos de mar,

Meu amor,

Meu poema da manhã.

 

 

24/11/1013

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Das palavras, as tuas palavras

 

As palavras, aos poucos, cansam-se das minhas mãos. As palavras escondem-se nos teus olhos, minha querida manhã de cereja ensonada, as palavras, as tuas palavras,

As tuas palavras são a minha madrugada, são o eterno silêncio nocturno dos luares de insónia,

As palavras, aos poucos, cansam-se das minhas mãos, e fogem para o mar,

Do mar em teus olhos.

 

Olho esta fogueira de sono, e as palavras, as tuas palavras, as palavras com que desenho o poema…

Morrem antes de alcançarem as minhas mãos.

Fico triste, meu amor, fico triste por não ter palavras para te enviar, ao menos se eu pudesse transformar palavras que não tenho em um simples olhar,

Ao menos,

Eu escrever-te-ia e eu te enviava,

Palavras,

Palavras de amar.

 

Palavras que não tenho, palavras que procuro na escuridão do dia e na alegria da noite, palavras tuas em teus olhos de mar,

Em teus olhos em flor,

Das palavras que que te escrevo,

Às palavras que não tenho.

 

As tuas palavras, meu amor, são as palavras que adocicam o meu olhar, são as tuas palavras que inventam nos meus lábios, o beijo,

Entre algumas palavras, nas palavras que procuro.

 

As palavras, aos poucos, cansam-se das minhas mãos. As palavras escondem-se nos teus olhos, minha querida manhã de cereja ensonada,

Palavras envenenadas, palavras sem madrugada,

 

Nas palavras das tuas palavras,

As minhas tristes palavras,

Da minha sensação de acreditar nas palavras, quando as palavras que procuro, são apenas as tuas palavras,

Nas palavras que escondo nos teus olhos, meu amor,

Das palavras que habitam neste jardim em flor.

 

Em flor as palavras,

Das palavras, as tuas palavras.

 

 

23/11/2023

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Mar de ti, meu amor

 

Mar de ti, meu amor, em teus olhos, mar de ti, meu amor, em teus lábios de mel, mar em ti, quando acorda a manhã, mar de ti, quando se despede a noite das tuas mãos.

Navego neste mar salgado, desassossegado, navego neste mar sem pátria, neste mar sem nome, dos teus olhos, o silêncio abraçado à maré, em teu mar em teus olhos,

Em ti,

De ti,

Meu amor.

 

Mar de ti,

Quando o primeiro beijo da madrugada poisa nos teus lábios, incinerados pela luz diáfana do desejo, em ti, meu mar, meu amor de mar em ti.

 

Mar sem ti, em ti este mar que transporto no meu peito, neste mar que visto de poema, quando percebo que dos teus olhos,

O mar está em ti,

De ti, meu mar,

Barcos que a noite inventa numa pequena esponja de dor, de ti, meu mar, meu amor, sem que a madrugada perceba as tuas lágrimas.

 

Escrevo palavras,

Palavras ao mar dos teus olhos, palavras que invento, palavras que semeio nos teus lábios de mel, em ti, este mar, em ti, este sofrimento de amar, de correr junto à praia, quando desce o luar sobre o teu cabelo solto e que brinca com o vento, em ti meu mar, de ti, meu amor…

 

Este mar,

Este lamento.

 

 

22/11/2023

Esperança – Poema de Francisco Luís Fontinha

 


terça-feira, 21 de novembro de 2023

Lareira

 

O fogo, os teus olhos ardem,

Os teus olhos de mar ardem na lareira do silêncio, os teus olhos de mar, fogem desta lareira desassossegada, o fogo, as árvores mergulham na planície dos teus lábios, e morrem as acácias.

O fogo dos teus olhos, a canção que oiço quando acorda a manhã, abraço-me e finjo ser um pedacinho de nada.

 

O fogo, os teus olhos ardem, as tuas mãos poisam no meu rosto e sinto o regresso da Primavera, e sinto o perfume das flores, e sinto a alegria dos pássaros,

Selvagem destino, mísero poema que escrevo, o fogo

Dos teus olhos quando a lua brinca sobre o mar, quando a lua se veste de mar, e os teus olhos ardem,

Ardem na simplicidade do dia.

 

Dos teus olhos, madrugada da minha insónia, o fogo dos teus olhos, em fuga, em direcção aos meus olhos,

Que também eles, ardem juntamente com os teus,

Ardem nesta lareira sem nome,

Nesta lareira envergonhada.

 

 

21/11/2023

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Lágrima da manhã

 

Morro de ti.

Morro em ti à náusea da manhã, morro de ti, depois do pequeno-almoço, morro de ti,

Quando o perfume do teu cabelo poisa na minha mão.

 

Morro em ti, manhã envenenada, morro em ti, chama ardente desta lareira desanimada,

E triste, e cansada,

Morro de ti, flor que se despede do seu jardineiro,

De ti eu morro,

Em ti, eu morrerei acreditando nas acácias da minha infância,

Morro em ti, clareira da madrugada, enxada que me persegue, antes de cair a noite, morro em ti e de ti morrerei antes da meia-noite.

 

Morro por ti.

Em ti eu morrerei,

Morrer por ti…

 

Morro por ti.

Morro em ti silêncio do infinito, decima quinta potencia do olhar, entre quatro paredes de mar,

Morro de ti, em ti eu morro e morrerei, acreditando nos sonhos,

Morro de ti, acreditando nas sombras do amanhã.

Morro de ti,

Morro de ti jangada do meu olhar, atormentada maré, morro em ti, rochedo da insónia, deste menino,

Sem fé.

 

Morro de ti, mão canfora da tarde, ribeira entre parêntesis, morro de ti e em ti, de morrer junto ao mar, de pedir uma salva de palmas, um lanche e um cigarro, em ti, quando o sol se torna frio e quando o teu olhar se veste de sol…

Morro de ti, em ti, lágrima da manhã, de ter morrido antes de acordar a lua, depois de partir a insónia, e morrer…

Em ti.

Morro de ti,

Sentir os teus lábios no poema, perceber que cada palavra, é um beijo teu, de mim que morre,

Em ti e de ti,

Partir.

Ficar.

 

 

20/11/2023

Tristeza

 Não sei porque choram as tuas mãos,

Não sei porque choram, os teus lábios,

Não sei porque choram os teus olhos,

Não sei,

Não sei porque chora o teu cabelo…,

Mas eu sei,

Porque choram as minhas mãos!

 

 

20/11/2023