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domingo, 3 de fevereiro de 2013

O fim dos dias

O fim dos dias,
Ontem tinha a certeza que das poucas coisas que me restavam eram estes poucos poeirentos livros, alguns antigos, mais velhos do que eu, alguns até mais velhos que o meu pai, outros, oferecidos por mulheres apaixonadas, outros, coisa nenhuma, apenas amizades que prezo e sempre prezei, o mais importante da vida são os amigos, claro que eu sou apelidado de louco e muitos irão pensar que estou errado, outros, outros que tenho razão, e outros ainda, que sou um parvalhão sem eira nem beira, e talvez o seja, e talvez não
E fico sempre assim, assim como? Assim, sempre que assisto ao fim dos dias, assim como se eu fosse um vulto vestido de sombra à procura de um espelho, olhava-me e via do outro lado alguns arbustos e um pedaço de rio em relâmpagos cinzentos acabando por despenharem-se nas raízes da paixão, como os limos, como os orgasmos que voam entre quatro paredes, como eles, os toques disponíveis no Facebook (servem para quê?), explicam-me que
Servem para não me ficar a dormir enquanto conduzo, isto é, enquanto escrevo, que servem também para eu perceber que estou vivo, ou
Para anunciarem-me o fim dos dias
Será?
Sim, o fim dos dias sem eira nem beira, oiço-os e fico furioso quando me dão toques e quando respondo, não me respondem, tal como a noite quando regressa, saio de casa, fecho hermeticamente a porta de entrada, meto as chaves na algibeira, puxo por um cigarro virtual, e
Fica dia,
Volto a meter o cigarro virtual na algibeira, volto a tirar vagarosamente as chaves, abro a porta de entrada, entro em casa, e
Fica novamente noite,
Desisto,
O fim dos dias,
(Manuseio-o e aprecio a beleza de um Cachimbo construído pelo artesão João Reis, é lindo, e felizmente tenho um entre mãos, manuseio-o e recorda-me os silêncios intermináveis das noites em que eu ainda conseguia voar entre quatro paredes como os orgasmos, ou com um pouco de sorte encontrar nas centenas de poeirentos livros alguns com a tua dedicatória, possivelmente existirá um, um apenas, como os toque que não servem para nada
A não ser,
A não ser proibir-me de adormecer enquanto escrevo),
O fim dos dias, os vultos meus pintados no espelho do guarda-fato, queria ficar sempre lá, como um prisioneiro condenado a prisão perpétua, até que um toque me acordava e libertava,
Abaixo as ditaduras e todos os ditadores deste planeta, abaixo as paixões e os amores das flores carnívoras, abaixo as janelas e as fotografias e os rios que dormem nas cidades de vidro, abaixo os toque, os malditos toques que não servem para nada, rigorosamente nada,
Como uma, apenas uma se existir, dedicatória num dos meus velhos e poeirentos livros,
Na fogueira que cresce, se alimenta, e sorri, à lareira
A tua lareira embrulhada em sonhos e quadradinhos de chocolate, há palavras por dizer, e frases por escrever, e
O fim dos dias,
E
Sim, o fim dos dias sem eira nem beira, oiço-os e fico furioso quando me dão toques e quando respondo, não me respondem, tal como a noite quando regressa, saio de casa, fecho hermeticamente a porta de entrada, meto as chaves na algibeira, puxo por um cigarro virtual, e
E
(acabo de receber mais um toque “virtual”).

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha