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quarta-feira, 29 de maio de 2013

As palavras agastadas

foto: A&M ART and Photos

Sentavas-te nas clarabóias do sorriso insónia madrugada
e eu imaginava-te voando sobre a cidade
voando desesperadamente como quem procura árvores baloiçando no vento de ninguém
em braços de aço sem odor sem fingimento
e no entanto tínhamos dentro de nós pequenas papoilas falsificadas
que um comerciante estrangeiro tinha estonteantemente inventado durante a noite desgovernada,

Éramos de pano como os cortinados da tia Adosinda
e vestíamos-nos enrolando-nos em palavras doentes com cabeças de néons abandonadas
pelos transeuntes imaginados na loucura das horas da Aspirina após o jantar...
havia uma janela de suor que escorria do teu corpo insuflável
porque das tuas palavras cresciam cravos encarnados como clavículas desperdiçadas depois de morto o esqueleto de água salgada,

Chovia-nos como chovem as lágrimas dos pilares de betão
quando do silêncio acordam mangueiras e capim envenenado
tive o mar na minha mão quando criança
como em nós
choviam barcos com plumas e rímel nos olhos transatlânticos em sinais de fumo,

Tocávamos cigarros por cigarros
beijávamos-nos dentro de um poço de prazer quando a lua escondia os mapas e as bússolas
que nos impediam de viajar pelas grandes planícies do medo e dos corpos suspensos na morte
chovia-nos como chovem pequenos adereços em papel e havíamos de encontrar uma porta
em fina cerâmica com bilhete para a eternidade...

[oiço “Eu Seguro” Samuel Úria e Márcia]
Encontro-me plenamente “SEGURO” porque já partiram os paquetes ensonados
e das poucas ruas ainda acordadas hoje nesta cidade
apenas uma a tua boca de Inferno
saboreando portas e janelas que as rochas transportam para a ilha do desejo
sem sabermos porque choravam os barcos com rímel nos olhos e plumas e cores nas faces rosadas da íngreme tristeza das asas de cartolina com palavras agastadas...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha