quinta-feira, 5 de setembro de 2024

O menino

Me enrolo nesta sombra de silêncio, primeiro capítulo do meu testamento,

Morria-me nas mãos.

Foi-se. Levantou voo e num arrepiante sentimento sem comer, deita-se sobre o rio,

Ergue-se a espada apontada ao destino,

Menino,

Determinado a comer todos os pedaços de noite,

Aqueles a quem diriam que o dia era a pirâmide do sonho,

Atropelou-o empurrando-o até às esquinas dos prédios em ruina, depois

Sentia-se tão triste quando olhava no espelho,

O MME, que não sei o que é, mais oiço-o por aqui.

Já não sei o que ia a dizer. Adiante. Siga a marinha mercante em direcção a Marrocos. AVANTE para a frente, e não caias sobre as pedras lapidadas de deus. Que deus o tenha no seu eterno descanso.

Mas que descanso?

Um gajo trabalha uma vida inteira e depois,

Morre e chega ao céu,

E vai continuar a trabalhar, sendo escravo de deu. Pois lá em cima deve haver muito trabalho para realizar, e claro

Não renumerado. Parece que deus, dizem, já não paga aos trabalhadores há muito, muito tempo.

E eu estou sem tempo.

Com muito tempo para ir a Lisboa e ficar

Por lá,

De onde nunca devia ter saído.

Escorreito, ele.

Eu sentava-me sobre uma pedra. Desleixava-me, não me vestia e sentia

Os pingos das putas,

Quando a chuva cai sobre a sanzala. O capim fumava nas traseiras da palhota, um gato, qualquer coisa a rimar

Com mato,

Continuando,

O gato era marreco, sofria das patas e

Fumava.

Mas deixou de fumar

No fatídico dia em que nasceu um menino num domingo de Janeiro, já andava de bicicleta à volta das cubatas, e lia

Poesia, depois do lanche.

O barco tremia de frio. O frio, também tremia,

De cio,

Quando o maldito do rio

Se afoga no mar.

Morreu, de quê?

Parece que tinha umas pequenas sombras

No fígado.

Sem cartão de cidadão, nada feito menina.

PRÓXIMO.

Ouviam-se os cortinados deambulando pela cidade à procura do tal destino,

Que só o menino,

O tal, aquele safado,

Dentro de um caixote de enguias, mergulhava

E trazia na boca moedas e oiro,

Verdade.

Eu vi na Madeira em 1971, tinha passado pelas Canárias, e São Tomé e Príncipe,

Coisa de miúdos, que estão sempre a sonhar

E

A inventar. Coisas.

Ao invés do sossego, desassossegou-se numa plataforma de ciúme sobre a praia de antigamente.

Tive um burro que ao Domingo estudava canto. Às terças-feiras sentava-se numa pedra

E fazia paralelos. Molas para a roupa e paralelos.

O pior era às segundas-feiras,

Embrulhava-se no tédio, migrava como uma lâmpada debaixo de um coqueiro,

Ao longe,

O Mussulo

Comendo amêndoas de chocolate. Ele é friorento. E é lento.

Coitado, dele.

Enforcado numa árvore, sem que nunca soubesse, que as sandálias eram em couro,

E eu,

Era tão livre, tão livre como são os sonhos.

 

De que cor

São

Os vossos sonhos, à sexta-feira?

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