Me enrolo nesta sombra de silêncio, primeiro capítulo do meu testamento,
Morria-me nas mãos.
Foi-se. Levantou voo e
num arrepiante sentimento sem comer, deita-se sobre o rio,
Ergue-se a espada
apontada ao destino,
Menino,
Determinado a comer todos
os pedaços de noite,
Aqueles a quem diriam que
o dia era a pirâmide do sonho,
Atropelou-o empurrando-o
até às esquinas dos prédios em ruina, depois
Sentia-se tão triste
quando olhava no espelho,
O MME, que não sei o que
é, mais oiço-o por aqui.
Já não sei o que ia a dizer.
Adiante. Siga a marinha mercante em direcção a Marrocos. AVANTE para a frente,
e não caias sobre as pedras lapidadas de deus. Que deus o tenha no seu eterno
descanso.
Mas que descanso?
Um gajo trabalha uma vida
inteira e depois,
Morre e chega ao céu,
E vai continuar a
trabalhar, sendo escravo de deu. Pois lá em cima deve haver muito trabalho para
realizar, e claro
Não renumerado. Parece que
deus, dizem, já não paga aos trabalhadores há muito, muito tempo.
E eu estou sem tempo.
Com muito tempo para ir a
Lisboa e ficar
Por lá,
De onde nunca devia ter
saído.
Escorreito, ele.
Eu sentava-me sobre uma
pedra. Desleixava-me, não me vestia e sentia
Os pingos das putas,
Quando a chuva cai sobre
a sanzala. O capim fumava nas traseiras da palhota, um gato, qualquer coisa a
rimar
Com mato,
Continuando,
O gato era marreco,
sofria das patas e
Fumava.
Mas deixou de fumar
No fatídico dia em que
nasceu um menino num domingo de Janeiro, já andava de bicicleta à volta das
cubatas, e lia
Poesia, depois do lanche.
O barco tremia de frio. O
frio, também tremia,
De cio,
Quando o maldito do rio
Se afoga no mar.
Morreu, de quê?
Parece que tinha umas
pequenas sombras
No fígado.
Sem cartão de cidadão,
nada feito menina.
PRÓXIMO.
Ouviam-se os cortinados
deambulando pela cidade à procura do tal destino,
Que só o menino,
O tal, aquele safado,
Dentro de um caixote de
enguias, mergulhava
E trazia na boca moedas e
oiro,
Verdade.
Eu vi na Madeira em 1971,
tinha passado pelas Canárias, e São Tomé e Príncipe,
Coisa de miúdos, que
estão sempre a sonhar
E
A inventar. Coisas.
Ao invés do sossego,
desassossegou-se numa plataforma de ciúme sobre a praia de antigamente.
Tive um burro que ao
Domingo estudava canto. Às terças-feiras sentava-se numa pedra
E fazia paralelos. Molas para
a roupa e paralelos.
O pior era às
segundas-feiras,
Embrulhava-se no tédio,
migrava como uma lâmpada debaixo de um coqueiro,
Ao longe,
O Mussulo
Comendo amêndoas de
chocolate. Ele é friorento. E é lento.
Coitado, dele.
Enforcado numa árvore, sem
que nunca soubesse, que as sandálias eram em couro,
E eu,
Era tão livre, tão livre como
são os sonhos.
De que cor
São
Os vossos sonhos, à sexta-feira?
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