sábado, 23 de setembro de 2023

Espingarda

 Às vezes éramos apedrejados pelo silêncio

Às vezes éramos escravos

Do silêncio

Às vezes gritávamos

Às vezes chorávamos

Às vezes tínhamos em nós toda a alegria

Às vezes sentíamo-nos os filhos do poema

Da poesia

Que às vezes atrapalhava o dia

 

Às vezes marchávamos em direcção ao mar

Às vezes fazíamos de mar

Quando o mar

Às vezes

Se disfarçava de um outro mar

 

Às vezes ouvíamos o apito do comboio

Na algibeira de transeuntes aflitos

Com fome

Que às vezes sentíamos enquanto o sono não regressava

Das vezes que se despedia

E nós sem saber o significado de manhã

Quando às vezes

Se perde um sorriso no meu olhar

 

E lá se vai a manhã

De apenas algumas vezes

Às vezes fugíamos

E às vezes pegávamos nas espingardas da insónia

Disparávamos incenso contra o sol

E sal contra a lua

 

E de todas as vezes

Regressavam sempre a nós as outras vezes

Dos dias de às vezes

Meio-escondidos na rua

Meia-lua dos teus olhos

Que às vezes ofusca

Que às vezes me chama

E lamenta

Esta espingarda de corda.

 

 

23/09/2023

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