sábado, 6 de maio de 2023

Meu amigo

 Tragam-me as flores

Deste Universo frio e escuro,

Tragam-me a luz,

A luz deste Universo frio e escuro,

Tirem as amarras deste Universo frio e escuro…

E tragam-me toda a paixão,

Deste Universo frio escuro.

 

Tão triste, meu amigo,

Quando vemos a manhã a suicidar-se na sombra de uma árvore,

E eu, e eu nada posso fazer,

A não ser,

Pedir ajuda,

SOCORRO…

E nunca sei se peço ajuda para a sombra da árvore,

Ou se peço ajuda para a manhã…

Mas a manhã,

Brevemente,

Estará feliz e contente;

Deixará de sofrer.

 

E enquanto não me trazem as flores deste Universo,

Faço contas de cabeça,

E sabes meu amigo,

Já nem sei fazer contas…

Dito isto,

Acho que já nem sei fazer anda,

A não ser,

Fazer sofrer…

 

E toda esta merda que te escrevo,

São os meus gritos de silêncio,

São as pedras da minha infância…

Que quase sempre,

Com elas fodia os vidros da minha escola.

 

E vê tu, meu amigo…

Até a minha escola morreu;

Morreram todos aqueles,

Os nossos e os outros,

Uns morreram de tudo,

Outros…

Morreram de nada,

E entre o tudo e o nada,

Morro, parto deste silêncio em escadaria

Em direcção ao céu.

 

E penso, muito, meu amigo,

Penso quando conversávamos de tudo e de nada…

E dentro dos círculos que desenhaste no céu,

Escondo toda a minha tristeza,

Toda a minha loucura…

De estar vivo sem o merecer.

E, no entanto, penso em ti.

E escrevo.

Escrevo porquê?

E juro-te, meu grande amigo,

Juro-te que quando me trouxerem as flores do Universo frio e escuro…

Não vou fazer nada;

Absolutamente nada.

 

O que fazer,

Meu amigo,

Quando todas as personagens destes livros,

Todas,

No silêncio da noite,

Se abraçam a mim, todas elas,

Sem que eu consiga fugir e esconder-me junto a ti…

Dentro dos círculos que numa qualquer noite desenhaste no céu…

 

 

 

Alijó, 06/05/2023

Francisco Luís Fontinha

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