Bebo pouco.
Bebo enquanto a noite se
despede da noite anterior
Enquanto a noite anterior
se despede da noite passada
Bebo pouco
Fumo muito
Coisas estranhas
Coisas esquisitas
Bebo coisas
E fumo uísque de malte.
Sento-me nesta cadeira
sem nome
Onde posso observar as
caravelas
E os petroleiros a
entrarem no Tejo
Bebo pouco
Muito pouco
Bebo alguns cigarros
E fumo muito
E fumo uísque de malte.
E escrevo.
Escrevo muito
Bebo pouco
Fumo coisas e loisas
E escrevo
Escrevo-te
Escrevo-me
E escondo-me dentro deste
Oceano de prazer
Depois oiço os gemidos
das tuas coxas
Como gonzos da madrugada
Quando se masturbam
Bebo
Fumo
E escrevo
E escrevo-me
E escrevo-te
Não escrevendo
Enquanto bebo todos os
cigarros
E enquanto fumo todo o
uísque de malte.
A noite traz-me os parêntesis
rectos da equação do sono
E da derivada vaginal do
teu corpo
As palavras que fumo
O fumo das palavras
Também as bebo
E beijo…
E também as como.
Gemes em pequenos
silêncios de medusa
Orquídea dos meus poemas
Bebo coisas e loisas
Fumo todo o uísque dos
teus lábios
E invento círculos de luz
Nos teus seios maternais.
Bebo
Muito pouco daquilo que
fumo
E enquanto bebo todos os
cigarros
E enquanto fumo todo o
uísque dos teus lábios
Peço perdão ao teu cabelo
Peço desculpa aos teus
olhos…
Peço… um beijo aos teus
lábios.
Alijó, 12/04/2023
Francisco Luís Fontinha
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