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quarta-feira, 12 de abril de 2023

Poema vaginal

 Bebo pouco.

Bebo enquanto a noite se despede da noite anterior

Enquanto a noite anterior se despede da noite passada

Bebo pouco

Fumo muito

Coisas estranhas

Coisas esquisitas

Bebo coisas

E fumo uísque de malte.

 

Sento-me nesta cadeira sem nome

Onde posso observar as caravelas

E os petroleiros a entrarem no Tejo

Bebo pouco

Muito pouco

Bebo alguns cigarros

E fumo muito

E fumo uísque de malte.

 

E escrevo.

Escrevo muito

Bebo pouco

Fumo coisas e loisas

E escrevo

Escrevo-te

Escrevo-me

E escondo-me dentro deste Oceano de prazer

Depois oiço os gemidos das tuas coxas

Como gonzos da madrugada

Quando se masturbam

Bebo

Fumo

E escrevo

E escrevo-me

E escrevo-te

Não escrevendo

Enquanto bebo todos os cigarros

E enquanto fumo todo o uísque de malte.

 

A noite traz-me os parêntesis rectos da equação do sono

E da derivada vaginal do teu corpo

As palavras que fumo

O fumo das palavras

Também as bebo

E beijo…

E também as como.

Gemes em pequenos silêncios de medusa

Orquídea dos meus poemas

Bebo coisas e loisas

Fumo todo o uísque dos teus lábios

E invento círculos de luz

Nos teus seios maternais.

 

Bebo

Muito pouco daquilo que fumo

E enquanto bebo todos os cigarros

E enquanto fumo todo o uísque dos teus lábios

Peço perdão ao teu cabelo

Peço desculpa aos teus olhos…

Peço… um beijo aos teus lábios.

 

 

Alijó, 12/04/2023

Francisco Luís Fontinha