Não sei, mãe, não o sei…
Estás tão ocupada na luta
com (a puta dessa velha, essa caquéctica puta) que até te esqueces de mim,
Mas cá vou andando.
Tantas lágrimas, mãe,
tantas lágrimas choraste durante a noite, e enquanto choravas, prendias-me no
teu colo como se eu fosse um pequeno círculo com olhos verdes,
E só uma vez me deixaste
cair ao chão… era tanto o teu cansaço, mãe, tão grande… o teu cansaço, mas
sabes, admiro-te por nunca me teres abandonado.
Depois, corrias em
direcção ao capim, deitavas-me no chão e puxavas as nuvens azuis para depois as
poisares no meu peito,
Tudo, mãe, tudo para me
protegeres daquela velha puta, tudo,
Fazias tudo por mim, que
um dia, um dia resolveste desenhar o mar no tecto da minha alcofa, tão lindo
mãe, tão lindo o mar, olha
Até me desenhaste a
cidade da luz no triste sombreado do meu olhar.
E sempre me disseste que
o segredo, o segredo, estava na palma da minha mão, e sabes mãe, abro a mão, e…
Segredo nenhum, nenhum.
E hoje sei que estou
protegido pelos teus olhos, mas ela mãe, ela é mais forte de que tu.
Não faz mal, não.
Não o sei, não.
Levantava-me do chão,
corria velozmente para a mangueira mais próxima e aos poucos, muito devagarinho
subia, subia, subia até desaparecer dos teus olhos, e só aparecia no areal mais
próximo,
Junto à portão de entrada
do quintal que hoje está vestido de saudade, e onde está sentado o avô Domingos
à nossa espera,
Nas ruas, mãe, nas ruas
daquela cidade ainda se faz passear de machimbombo na mão, preso por um fino e
débil cordel de sono, até que regressa a noite e a saudade desaparece,
Como tudo, mãe, como
tudo.
Como tudo desaparece.
E sei que vais perder
essa maldita guerra, como sempre mãe, como sempre, perdeste para essa velha caquéctica
puta.
Hoje somos uma cânfora
adormecida, dentro de uma pequena caixa de sapatos, sem janelas, sem porta de
entrada, sem tecto, sem telhado, sem nada,
Sem nada,
Nada.
Alijó, 26/02/2023
Francisco Luís Fontinha
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