sábado, 19 de novembro de 2022

Os filhos da saudade

 Nunca soube o teu nome

Nem porque me escondeste na algibeira dos sonhos

Escrevíamos poemas sem sentido

Que só as árvores do sono percebiam

Porque do sono vinham a nós todas as flores e todos os males da cidade.

 

A cidade era uma alcateia de sombras

Eram pedras cinzentas que depois de sepultadas na tua mão

Cresciam árvores anãs com os lábios pincelados de encarnada insónia

Porque um filho também chora

As lágrimas negras das palavras.

 

E o Tejo ali tão perto

Enquanto tínhamos dentro do peito

Uma nuvem cravada de pregos

Que a espingarda da paixão disparava em nós

E morríamos dentro do desejo.

 

E quando acordávamos da morte

Tínhamos na boca os beijos da noite anterior

E as réstias ao pescoço

Que a própria morte tinha alicerçado em nós

Como éramos felizes à sombra dos barcos…

 

E sabíamos que havia sempre um barco que nos trazia o silêncio da noite

Como a morte nos transportava para o caos da manhã

O rio sabia o teu nome

Mas eu nunca o soube…

Porque os filhos da saudade não têm nome.

 

 

 

 

Alijó, 19/11/2022

Francisco

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