Olhas-me
Olhas-me pendurado nesse
eterno silêncio
Como se eu fosse uma
janela virada para a noite
Sabendo nós
Que a noite é apenas um
cortinado embrulhado na timidez da alvorada
Olhas-me
Enquanto do outro lado de
mim
Uma lâmina de ossos
atravessa-me o peito
E as palavras que te
escrevo
Morrem quando se esconde
o sol nos teus olhos de amêndoa
Mesmo assim
Olhas-me nesse imenso
Oceano de escuridão
Olhas-me
E sentas-te nos meus
olhos invisíveis
Que transportam a luz neste
enorme acelerador de partículas
A que chamam vida
Olhas-me
E incendeia-me quando
lanças sobre mim
As primeiras chuvas da
manhã
Sem que percebas que
choro
E olhas-me
Olhas-me
Enquanto estou suspenso
nesse inanimado pedaço de parede
Quando podíamos ser um
barco
Perdidos em alto-mar
Alijó, 13/11/2022
Francisco Luís Fontinha
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