Nunca
me encontrarás porque eu sou a sombra,
Nunca
me encontrarás junto ao rio a escrever nos teus lábios de Belém,
Nunca
me encontrarás nos jardins de Belém…
Nem
nunca me encontrarás abraçado aos braços da maré,
Nunca
me encontrarás sentado a pensar em ti… porque, porque deixei de pensar em ti,
Hoje,
nunca me encontrarás a desenhar nos teus lençóis os meninos a brincar na praia,
Porque
a praia morreu,
Porque
os meninos morreram,
Nunca
me encontrarás enamorado pelo teu olhar,
Debaixo
das nuvens envergonhadas dos finais de tarde,
Nunca
me encontrarás enrolado nas tuas mentiras…
E
batem à porta…
E
espero que não me encontres neste circo ambulante,
Observando
as árvores assassinadas pelos teus dedos…
Nunca
me encontrarás nesta casa desajeitada e sem porta de entrada,
Que
nem uma simples caixa do correio tem para receber as tuas cartas perfumadas,
Nunca
me encontrarás a olhar o Sol… porque odeio o Sol,
Detesto
o Sol.
Nunca
me encontrarás passeando na rua atropelando automóveis famintos,
Tristes…
Tristes
desencontros das ancoradas em flor…
Nunca
me encontrarás nas tuas cartas nem no interior dos teus livros,
Porque
não o quero…
Não
quero ser encontrado.
Nunca
me encontrarás.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
8 de Junho de 2017
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