domingo, 3 de janeiro de 2016

Poema do cansaço


Cansei-me da vida

Cansei-me do amor

Do dia em despedida

Nas mãos de uma flor

 

Cansei-me de ser eu

Sempre o alpendre nocturno do adeus

Cansei-me das cidades de vidro

E dos Céus

Cansei-me do silêncio em pergaminho teu

Os dias enforcados na penumbra maré

Os dias prometidos

Mortos

Todos

Fodidos…

Em marcha a ré

Cansei-me de mim

Cansei-me de ti

Cansei-me deles

E cansei-me deste vadio jardim

Sem Fé

Quando aqueles…

Aqueles bichos alimentando-se do desejo

Se confundem com a madrugada

Assim

Assim nada feito

Fico sem perceber se amo

Fico sem perceber se sou amado

E percebo que amanhã é segunda-feira

Dia de trabalho

Escrever

Dormir

Dar uma volta ao caralho

Não o sei

E nunca o soube

Sei que tenho atrozes

Reumatismo

E quase cinquenta anos

Do dia da despedida

A despedida

Amo-te

Até amanhã

E adeus à Pátria…

Fodi-me

Foderam-me

Sou um poeta enrabado

Sou um poeta cansado

No poema

Do poema

O poema do cansaço.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 3 de Janeiro de 2016

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