A
morte desliga-se do corpo
Interrupção
da vida entre momentos e obscuros silêncios
Oiço
a tua voz poisada no espelho do guarda-fatos
Sentes
no cabelo a tempestade dos órfãos parágrafos
Apenas
palavras, meu amor, palavras sem nexo
Para
pessoas sem nexo
Como
tu
Como
eu
Sempre
no esquecimento de viver sem perceber o significado da vida
Uma
passagem
Uma
pequena passagem…
Para
o húmus
A
terra incendiada pelos teus gemidos
O
borrão da caneta de pinta permanente sobre as sanzalas da tua adolescência
Foste
feliz, meu amor,
O
homem mais feliz de todos os homens felizes
Que
eu conheci
Tinhas
um crocodilo em pão-preto
Algumas
fotografias a preto e branco
Um
carrossel de cartão
E
eu era feliz nos teus braços
A
morte desliga-se
Foge
Covardemente
Foge
Sem
deixar rasto
Endereço
Número
de polícia
Rua
ou calçada
Tanto
faz
Não
existes
Deixaste
de pertencer às manhãs televisivas
Sentavas-te
no sofá
Incrédulo
Rabugento
Nas
finíssimas lágrimas da tristeza
Que
o teu rosto transportava
O
engano
A
mentira
O
sofrimento do Adeus quando a presença é desconhecida
De
mim
De
ti
De
nós…
Às
vezes acreditava que conseguias voar
Mas
logo percebi que era impossível voares…
Apenas
os pássaros o sabem fazer tão bem
Que
Que
sempre duvidei que o conseguirias
Felizmente
Não
o conseguiste
Eu
não o consegui
Que
Amanhã
perceba porque não o consegui
Escrevo-te
sem saber porque o faço
Não
me importa a solidão
E
as noites sem ninguém
Não
me importo com o amor
A
paixão
E
a ressurreição dos panos de linho
Não
me importo, meu amor, não me importo com as coisas simples da vida
Os
livros
Sentado
numa esplanada com sabor a Tejo
Uma
cerveja, um prato de caracóis, e nada mais…
Amava
a tua alegria
Amava
os teus braços na minha face…
E
nunca me disseste que ias partir!
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
segunda-feira,
7 de Dezembro de 2015
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