quarta-feira, 24 de junho de 2015

Noite de bebedeira em Cais do Sodré


Dançavas-me entre sombras de prata

E nuvens de silêncio,

Snifávamos o sorriso do rio,

Fumávamos os barcos aportados num qualquer coração sem alma,

E éramos felizes,

Como são felizes todas as marés curvilíneas da saudade,

Como éramos felizes embrulhados no fumo do “Texas”… meia-noite em ti,

Uma da manhã em mim,

Bebíamos todas as palavras poisadas em cada mesa,

Amávamos todos os abutres da noite

Que deambulavam sobre nós,

Dançavas-me…

E nuvens de silêncio,

E beijos,

Líamos e inventávamos círculos de papel,

Escrevíamos em todos os corpos dos corpos sem corpos.,

E não sabia que existiam beijos de esperança

E cabelos de infância,

À nossa volta,

Gajas,

Gajos como nós,

Voando em direcção ao mar,

Desenhávamos o abraço numa qualquer lápide,

Uma fotografia tua…

Olhos verdes,

Olhos castanhos,

Olhos… olhos enfeitados de naftalina,

Dançavas-me,

E eu não sabia que o amor se escrevia na margem esquerda do teu peito,

Ouvia-o…

O teu coração de pedra,

Ouvia-as…

As tuas coxas suspensas na mão de um qualquer gajo,

Como nós,

Gajos como nós,

E gajas,

E gajas como tu…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó


Quarta-feira, 24 de Junho de 2015


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