A
poesia habitava num edifício caquéctico, quinto andar esquerdo,
António folheava as fotografias de Margarida,
O
tempo entranhou-se nas nossas estórias,
Ouvia-a
enquanto ela se despia,
Sentia-me
uma letra esquecida nas pálpebras do anoitecer, lá fora brincavam
crianças, fingiam que eram sombras húmidas abraçadas ao mar, o
eterno
Se
despia, dançava para mim, enquanto eu, eu nem a olhava, lia um poema
de um autor desconhecido, embrulhava-me no poema... e
Se
despia, o eterno momento do desejo, dois corpos de luz sós no vazio,
nada, ninguém em redor, apenas percebia que o espelho do sexo
baloiçava nas mãos de uma andorinha,
Miguel,
A
guerra, “a merda da guerra”, a morte anunciada antes de partir
Vais
morrer,
Antes
de partir, nas mãos de uma andorinha, ele,
Fotografias...
Ele
imaginava o pai um herói, e afinal... um covarde, o perfeito covarde
das algas em flor...
Migue?
Sim,
pai,
Ontem
chegaste tarde a casa...!
Eu,
pai?
António
Que
não,
António
defendia o irmão,
Tarde?
Cheguei
depois dele...
Que
não, que as guerras não deviam existir
Angola,
Amor
de “mãe”,
Foi-se,
Morreu,
em combate...
(ficção)
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira,
17 de Março de 2015
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