se o teu corpo fosse apenas uma palavra
uma flor solitária no jardim dos
jasmins
uma estátua sem nome
sexo
ou idade...
se o teu corpo fosse a noite enfeitada
com lantejoulas e alecrim
desconexo melódico das músicas sem
anoitecer
conforme os sonhos da insónia
se o teu corpo fosse uma guitarra
uma bateria prisioneira num quinto
andar com janelas para o Tejo...
um cacilheiro em combustão
procurando poemas
inventando livros nas mãos do silêncio
se o teu corpo fosse uma sinfonia de
fotografias a preto-e-branco
nua
sexo
ou idade...
se o teu corpo habitasse na ponte do
incenso
mergulhada na tristeza de um olhar
pintado de verde
nua
sexo
ou... idade
se o teu corpo fosse um livro de ler
a lareira do Inverno recordando a
saudade...
se o teu corpo existisse
tivesse vida como a vida das minhas
personagens
se ele me dissesse que me amava
se o teu corpo fosse a jangada
a livraria enfeitada com o pó
envenenado das sanzalas perdidas no Oceano...
nua
sexo
ou... idade
se o teu corpo falasse
gritasse
- eu estou apaixonada...
e eu acorrentava-me ao teu corpo com o
nome de “palavra”...
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 19 de Abril de 2014
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