não percebo a prisão de vento que são
os teus braços
quero voar... e não consigo subir à
árvore do teu sorriso
planar no teu silêncio
não percebo as andorinhas do teu
cabelo
parecem tristes
parecem aquilo que sou quando cessam
todas as luzes
não percebo porque sou obrigado a
sonhar
quando deveria navegar sobre um Oceano
de insónia
não percebo as nuvens cinzentas das
montanhas abandonadas
sem vida
sem... sem madrugadas
afinal... nada percebo e nada sei a teu
respeito
percebo que vives
percebo que morrerás sem perceberes
que eu já percebi... que aquela montanha é apenas uma sombra de
olhos cerrados
não percebo os cigarros que vivem como
se fossem palavras
palavras que se escrevem em ti
e de palavras será construída a tua
lápide
quando acordar o Sol e eu talvez
sentado sobre um pedaço de xisto esperando que acordes
não percebo a ausência dos
calendários sem janelas
as ruas parecendo um jardim vestido de
nus obscuros sons
um baterista esquecido num coreto de
aldeia
e tu moves-te como se fosses um
pedestal pesadíssimo
granítico
ignóbil cansaço nos teus braços que
são uma prisão de vento.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 19 de Abril de 2014
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