Termina a noite e sinto-me um desamor, desalmado, um
pedaço de papel sem endereço ou palavras, sinto-me uma flor sem
pétalas, ou
Uma boca?
Sou a boca sem lábios, a boca sem desejos, sou a
boca das palavras envenenadas pela noite, vigio a luz que ilumina a
minha mão, oiço a voz do teu sofrimento, oiço a voz dos teus
anseios, oiço a sombra transformada em voz, oiço a pele sedosa da
manhã na límpida chuva dos orvalhos clandestinos que aparecem nos
dias de ansiedade, oiço a voz do desejo proclamando os inocentes
divãs com pernas de cetim, oiço dos cortinados os vãos confusos
que a tua língua deixa sobre a mesa-de-cabeceira do quarto duzentos
e dezassete, e oiço a voz do simpático cortinado vomitando
orgasmos; amo apaixonadamente a noite e a embriaguez das luzes
encarnadas dos teus seios.
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 3 de Novembro de 2013
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