foto: A&M ART and Photos
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Esqueço abismos e inglórias
acordo sabendo que deixaste de me
esperar no banco granítico
do jardim invisível
o nosso pequeno quarto sobre as rochas
viradas a Norte,
Esqueço palavras e sonhos
imagens
esqueço os sofrimentos das nocturnas
esplanadas que a escuridão engole
e transcreve para o muro em betão que
divide os nossos corpos separáveis hoje,
Acorrentados ontem
(lembras-te – querida solidão de
areia?)
como barcos prisioneiros em pilares de
sombra
e esperando que o luar desça as
escadas dos cais desassossegados,
Esqueço a ti
como as serpentes envenenadas debaixo
do divã
esqueço a ti embrulhada no capim
húmido dos lençóis da madrugada
e sei que deixaste de me esperar,
E nunca mais te vi na janela da manhã
como o fazias ontem
antes de ontem...
quando regressávamos dos corredores de
aço com sulcos finos em papel de parede,
Rosas em decomposição
corpos de poemas em putrefacção não
sabendo eles que deixaste de olhar o sol
e começaste a caminhar mar adentro
como um paquete sem rumo,
Descendo calçadas de vidro
versos cansados
palavras e palavras e palavras
para quê?
Versos malvados
esqueço abismos e inglórias
acordo sabendo que deixaste de me
esperar no banco granítico
do jardim invisível...
Tristes
estas noites quando os relógios morrem
e o tempo cessa as suas garras
no pescoço teu onde dormem as gaivotas
embriagadas.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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