sexta-feira, 28 de junho de 2013

A falsa casa numa falsa morada (eu)

foto: A&M ART and Photos

Em meu sangue flutuas como uma porcelana adormecida
uma Rainha desesperada
voas entre paredes e muros e escadas...
em meu corpo habitas falsamente no compartimento exíguo
onde deixo durante a noite alguns dos meus sonhos,

Finjo ter em mim uma morada
uma pequena casa com asas de papel
é triste a fachada
uma casa com cortinados de aço
onde suspendes os teus desejos quando desce a noite em nós,

Em nós?
Se tu não existes como não existem as amoreiras da nossa infância
como nunca existiram as cavernas encastradas nas rochas junto ao mar
éramos dois barcos com velas desenhadas numa sombra vinda do céu
como vinham até nós (Nós?) os silêncios amanheceres das falsas madrugadas,

E inventávamos janelas de abrir no sorriso dos transeuntes
que dizimavam cigarros de enrolar
ouvíamos o ruído da água sibilando das finas esferas de açúcar
que brincavam no corredor da memória...
havíamos de reencontrarmos-nos numa qualquer paragem do eléctrico,

E nós?
Pergunto se algum dias existiu Nós em nós?
Um vocabulário apreendido pela polícia numa rusga em Alcântara
mesas cadeira e nós
nós? Quem somos nós?

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

Sem comentários:

Enviar um comentário