Incompletas todas as manhãs da tua
ausência
e sei que o teu perfume brinca no
roseiral
esperando pacientemente que acorde um
fio raio de sol,
Incompletas todas as lágrimas
recheadas com mel e madrugada
salgada,
Incompletas as tuas dóceis mãos de
Primavera
que descem imaginariamente pelas
ranhuras do meu corpo embaciado
pelas lanternas da inventada paixão,
Incompletas
as plantas e os pássaros e os lábios
da noite vestida de insónia
incompletas as brincadeiras desenhadas
numa ardósia
por duas crianças apaixonadas
e incompletas vaidades
entre as paredes cansadas
os livros coxos
mochos
castanheiros cavernais que as tardes
construíam no bairro do hospital
chovia e o vento escrevia amor numa
seara de trigo
chovia sempre que alguém invocava a
dita palavra
que a húmida terra escondeu das
incompletas manhãs da tua ausência,
Aglutinavam-se as incessantes veredas
lilases dos pilares de orvalho
escrevia-se amor com o espeto de aço
inoxidável
e enrolávamos o volante de borracha no
pescoço saudável,
Libertos dos cigarros libertos das
drogas libertos do álcool
percebíamos que as incompletas manhãs
no roseiral
eram plumas viscosas dentro de uma
jarra de zinco,
Os telhados verdejantes das malditas
ressacas sem corações apaixonados
os velhos e os novos e os defuntos
moribundos
dentro de quatro paredes
sentados no chão
a extraírem a raiz quadrada de 3 865
156.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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