quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Quatro segundos de voz


Roubo às palavras ditas
palavras escritas,

a melancolia
quando acordo não percebendo que acordei
e tropeço nas areias húmidas das rochas incendiárias
e não sei que o dia compreendia
a enormíssima porcaria
de fato e gravata
que é o doutorado diabo
em silêncios mergulhado
torturado por uma velha de mãos efémeras em cio
com um sorriso na veia
maldita mulher que o vento semeia
nas coxas exaustas das tempestades de areia,

Roubo às palavras ditas
palavras escritas,

e eu sabia
que um dia
me fodia
acreditando nas palavras desertas
hirtas e difusas
e eu sabia
que um dia
um velho dia
ele vinha
me pegava
e me levava
até aos confins olhos das amêndoas que jazem nas cinzentas lajes do oceano,

Roubo às palavras ditas
palavras escritas,

e sento-me sobre as nádegas do amor
sou feliz
talvez
um pouco
muitas vezes dentro de um prato de sopa
a tua simples madrugada
em gaivotas voadoras
loucas
que a tua boca de papel amarrotado
dissimila
e deita-se nas celestes luzes das cidades de vidro
a dita palavra escrita dita roubada em quatro segundos de voz,

P.S.
Roubo às palavras ditas
palavras escritas.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó

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