bem-vinda saborosa noite
melancólica do infinito inferno silêncio da luz construída entre
dois orifícios, que a fechadura nocturna da mini-saia depravada voz
inventa nas flores e limita limitadamente as palavras murmuradas, os
cereais e o leite com chocolate, bem-vinda saborosa noite, internada
num livro apavorado no medo clandestino das janelas suspensas no
lençol equilátero semeado na ardósia de papel às árvores
aventuras de uma esplanada em ruínas, procuras
- os fósforos, filtros,
mortalhas, coisas poucas e comuns que procuro na algibeira e dou
voltas circulares dentro da cidade, tenho vómitos, talvez excesso de
palavras, talvez excesso de cachimbos vazios, sozinhos, cansados de
mim para mim, ao cair a noite nas traseiras da semana tristemente
cansada dos suspiros madrugadores que o palhaço e a trapezista
desenham debaixo da tenda do circo invisível, os holofotes de tinta
nos pedaços de aço que sobejam na calçada das abelhas singelas
migalhas de desejo, ouvem-se triângulos de sombras nas paredes das
patogénicos meninos de porcelana, bem-vinda, madrugada sem destino,
descuradamente feliz nas mãos do Outono, ela dizia-se senhora dona
da rua das flores e largo das eiras campestres dos dias passados à
lareira, dizias-me, dizias-me, sussurravas-me
não venhas tarde, e
- e eu, perdia-me semanas
a fio até desaguar no cais das âncora de papel e chocolates em
amêndoa que a pastelaria azul servia nos intervalos da poesia
nojenta que eu, e eu, eu escrevia amedrontado que as minhas palavras
mergulhassem na ferrugem dos barcos apaixonados, e eu, eu ficaria
também apaixonado loucamente perdido em ti, em ti às vezes eu
sobejo os fios de sémen estupidecidos num qualquer banco do jardim,
não me sento em ti, não me abraço a ti
porquê eu?
- abraçado a ti, e
dentro de ti vive um poço infindável de luz com cerejas e mel,
porquê eu, não me abraço a ti acreditando que na ardósia de papel
existem números complexos, matrizes, equações diferenciais, porquê
eu vestido com cetim e fitas encarnadas no cabelo loiro indesejado
pelos homens dos desertos bares da escuridão,
de que tens medo
Perguntas-me todas as alvoradas quando regressas com os cereais e o
leite com chocolate, olho pela janela a verdadeira vida vivida
vivendo eu nas tuas mãos de manhã ensonada, os sexos orgulhosamente
felizes, também eles, nós, os sonhos
- porquê os sonhos?
se amanhã é sábado, e
os rios estão encerrados para descanso do pessoal.
(texto de ficção não
revisto)
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