Gostavas de regressar das longínquas
sombras
amnésias que constroem a cidade
dentro da cidade invisível do sono
e chegavas tardíssimo às pálpebras
húmidas do sorriso de uma rosa
e chegavas
aos meus braços eternos do amanhecer
doirado tua língua de silêncios,
acendias timidamente o candeeiro das
palavras de ontem
como se eu fosse um dos teus livros
parvos
insignificantes
abandonados
sobre uma mesa de cartão deixada nas
traseiras da casa sem janelas
e nunca te ouvi um gemido,
e nunca prenunciaste um lamento
nas ardósias da insónia
gostavas de regressar das longínquas
sombras
amnésias que constroem a cidade
e a cidade meu amor é toda nossa
e vive dentro da algibeira dos sonhos,
e chegavas e dentro de mim poisavas os
medos
e os abismos de luz que carregavas nos
ombros da vida
vivias numa rua destruída hoje pelo
amanhecer que as gaivotas de aço
deixam ficar no térreo pavimento da
solidão
e vive dentro da algibeira dos sonhos,
e vive
gostavas de mim
insignificantes
abandonados
os olhos da claridade clandestina que a
morte
tua mão em mim semeava.
(poema não revisto)
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