quinta-feira, 6 de setembro de 2012

À boca a tua louca janela

Sossego
entre as palavras caídas
das nuvens de veludo púrpura
à boca
sossego dos lábios incandescentes
quando do desejo cresce a vergonha de olhar o céu
louca
a manhã em ressaca depois da noite murmurada em poemas doentes
às palavras indesejadas
à boca
louca
majestosos cansaços nos pilares da morte

louca

sossego
quando escreves na minha lápide invisível
(aqui jaz um grande filho da puta)
eu
em sossego
entre as palavras caídas
das sandálias com tiras de couro
e um triciclo de madeira
esquecido
magoado
triste debaixo das mangueiras trucidadas pelas balas sem destino
eu menino
voo sobre o musseque de incógnitas e equações clandestinas

louca

a boca
a tua boca
quando engole o meu corpo em pequenos recortes de jornal

à boca
a louca clandestina memória da infância

(aqui jaz um grande filho da puta)

um menino em calções que sonha roubar o mar de Luanda...

(poema não revisto)

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