Esperança

Não tenham pressa, eu quanto a mim, não tenho esperança, quanto a mim, nunca tive fé

não tenham pressa para nada, nada

não tenham pressa de agarrar a pressa se a pressa um dia vos fugir de casa 

não tenham pressa

pressa de nada

 

Não tenham calma com a pressa, de andarem sempre apressados moribundos

não tenham pressa que se extinga o mundo

porque o mundo também não tem pressa para se extinguir

e quanto a deus

menos pressa tem para alguma coisa

quanto mais para a pressa

 

Não tenham pressa, digo eu, neste momento que nenhuma pressa tenho para ir dormir

não tenham pressa com a pressa

e esperem que regresse a pressa

e um dia vos leve à pressa

 

 

(Francisco – 17/04/2024)

 Hoje peguei novamente no lápis, não o fazia há longos meses…

Algo estranho se passa entre o cérebro e as mãos…

 

(Francisco – 17/04/2024)

Há barcos no Tejo

Se o toiro morre, há barcos no Tejo

Há mãos no cais da ribeira que procuram Cais do Sodré

Há barcos no Tejo, enjoados, diga-se

Com cara de poema, depois de o poeta deitar a pequena folha de papel na fogueira

Se o toiro morre, é uma tragédia

Uma algazarra de alvoradas

Numa outra mão cheia de estrelas

 

Se o toiro morre, há um barco de esperma em direcção ao montado

Se o toiro morre, coitada da esposa do toiro…

Coitada da vaca

Que será eternamente

Vaca

 

Coitado do toiro, se o toiro morre, há barcos no Tejo

Há amêijoas num pequeno pires, sobre a mesa, no centro da esplanada

Há cerveja

Há toiros & caracóis

Há marias e maneis

Fios anéis

Rios…

O Tejo com barcos

 

(Francisco)

Uísque

Peço ao uísque um pouco de silêncio, um só pedacinho de tarde, junto ao rio

Peço ao uísque que rapte o meu sofrimento, que leve as minhas lágrimas

Peço ao uísque a morte

E a paz

 

Peço ao uísque a melodia da tarde

E as mágoas da noite

Que há-de vir

Que vai trazer…

A tristeza

 

Peço ao uísque palavras, palavras para eu semear sobre este caderno, só, só palavras nas mãos do uísque

 

Peço ao uísque

Juízo

Muito juizinho

 

(Francisco)