quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

A diáfana agonia encostada à janela da Sala de Jantar


Estes solavancos que a vida me dá

O transporte para o Inferno

O apeadeiro do desejo

Desgovernado rio abaixo

A cidade dos mortos

Recheada de desenhos

E palavras

Gastas…

A primeira alvorada

O último comboio para a solidão

Quase de partida

Como um foguetão

Quase de se esconder

Como o amor

O dia ameno

Sereno

Como uma criança sombreada pelos esqueletos da selva

A montanha

A diáfana agonia encostada à janela da Sala de Jantar

E eu sentado na tua sombra

Puxo de um cigarro suicidado pelo cansaço

E ignoro-o como se ele fosse o mal dos meus pecados…

Como se eu tivesse pecados

Originais livros

E plantas num rés-do-chão manhoso

Daqueles que ao acordar se percebe que o dia é uma canseira

Uma tristeza

Sobre a mesa

Ao cair do dia

Na aldeia

Sofro

Muito

Sofro o suficiente sofrido das gaivotas em flor

Os jardins suspensos na noite embriagada

O dono da esplanada

“vamos embora seus cabrões”

E fomos

Tristes

Tristes

Por percebermos que éramos cabrões de primeira classe…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quarta-feira, 30 de Dezembro de 2015

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Sabes, meu amor, não o sabes porque o amor é estúpido, porque o amor é belo, adormecido na jangada do passado, as pirâmides do desejo entranhadas na solidão…


(ao meu pai)

 

Hoje acordei acreditando que existias

Meu verso complexo

Das tardes tardias,

Hoje acordei acreditando que vivias…

Mas os parágrafos das sinfonias

Adormecendo nos meus lábios,

Hoje sabias que eu regressava,

E, no entanto, ignoraste-o,

Esqueceste-te das minhas palavras,

Das minhas flores recheadas de palavras,

Das minhas palavras recheadas de flores,

Hoje acordei pensando que era dia do Pré…

Nem Pré nem amendoeiras em flor,

Hoje, hoje é o dia do sofrimento,

A amargura transformada de claridade,

O dia morto,

Dentro do caixão do relógio…

Na clandestinidade,

Hoje acordei, meu amor, amor nenhum,

Sou um Plátano centenário esquecido num qualquer cemitério…

Sou cinza

E pó,

Sou pó

E cinza,

Brincando na sanzala do sorriso…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça, 29 de Dezembro de 2015