segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Lágrima de fogo

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Um tentáculo de gelo beija os teus lábios
desce do teu olhar a lágrima de fogo
que vai incendiar o meu peito...
há vozes desorganizadas em revolta
há crianças que esperam o regresso do circo
e a cidade se transforma num manicómio com paredes de vidro,

O sino da Igreja grita
chora...
o vento despede-se dos cabelos brancos em desalinho
são horas da cidade adormecer
correr os cortinados do destino...
e talvez amanhã, alguém... consiga destruir o manicómio com paredes de vidro.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 22 de Dezembro de 2014

domingo, 21 de dezembro de 2014

Porta de entrada


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Esta porta
morta
infeliz aquele que deseja entrar
e a sombra o acorrenta
aos velhos telhados de cartão
esta porta
sem acesso ao coração
em vidro
de pedra
o xisto desfeito em lágrimas de papel...
e há sempre um corpo esperando pelo regresso da tempestade
sem vaidade,
sem... sem amizade
esta porta encerrada para obras de restauro
lapidações em trinta e seis prestações...
a vida se perde neste labirinto de palavras
e madeira apodrecida
esta porta
sem entrada para o casebre da mendicidade
e elas em guerra por um punhado de areia
ou... ou por um poema em decomposição
os braços achatados
e sobre os ombros... a fugitivo da madrugada...
de cidade em cidade... de corpo em corpo... de nada em nada.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 21 de Dezembro de 2014

O amor é...


Tínhamos os holofotes do desejo nas nossas coxas,
argamassavam-se nos teus seios os fios de saliva do meu sofrimento,
tinha no peito uma concertina a chorar,
sentia-me liberto das tuas garras,
e palavras que foste coleccionando no meu peito,
tínhamos os holofotes do desejo... sem percebermos que o amor é um milímetro quadrado de nada...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 21 de Dezembro de 2014