segunda-feira, 26 de março de 2012

Não chores

Não chores
Não
Porque…
Porque eu…
Porque eu não valho uma lágrima
Um simples olhar
Ou apenas um sorriso

Não chores
Não.

Aqui tão perto

(aos poucos amigos que na obscuridade tudo fazem para que eu não passe fome; Obrigado)

Aqui tão perto
E tudo parecia tão longe
Aqui tão perto
Quando todos os vidros das janelas do inverno
Adormeceram

Aqui tão perto
Quando cresce o néon da primavera
E todas as flores
Tão belas
Tão… especiais
Aqui tão perto
E tudo parecia tão longe
Inatingível e desumano e horrível

Aqui tão perto
E tudo parecia tão longe

A primavera.

domingo, 25 de março de 2012

A mão da laranja

Deixei de sonhar
E amar
O meu corpo é uma roda dentada
Mergulhada em limalha de ferro
E pingos de solda
Transporto-me para a algibeira da noite
E todas as minhas veias desbagoam num beco sem saída
Prendem uma corda de nylon nas minhas mãos desiludidas
E lentamente cessa em mim a respiração
E lentamente cessam em mim os fios de sémen
Que deixaste na minha insónia
Antes do clarear do dia

Deixei de sonhar
E amar
Quando desapareceste entre as lágrimas do rio
O meu caixão de papel treme nos lábios da solidão
E adormeço na claraboia da infância
Morro

Morro sem saber o que é a felicidade
E o amor que acorda nas palavras da tarde
Morro
Morro sem saber o que são acácias

E que na noite crescem lágrimas na mão de uma laranja
E morro
Nos pergaminhos da loucura
Antes do nascer do sol

Deixei de sonhar
E amar
Eu suspenso no estendal sobre o mar
Eu
Lentamente na garganta do cansaço
Quando a miséria se alimenta dos meus olhos
E na minha boca vejo o esqueleto da fome
Morro
Morro feliz porque deixei de sonhar
E amar
E cessaram em mim todas as orquídeas
E cessaram em mim todos os horrores…