A fragrância das tuas
sílabas em seios de andorinha
voando entre lábios e
arbustos dos jardins meu peito envenenado
coisas boas
em Lisboa
um rio me chama
e um mar me engole
com sabor a poesia
e ruas de alegria
este louco amor
ao de leve os vulcões sem
crateras corações de areia
uivas em gemidos
constelações
que o mapa das estrelas
lança sobre a lua,
queres só para ti o luar
e as janelas belas
que a noite deixa cair
nas esplanadas ósseas dos orgasmos que os pássaros em teu redor
remoem
e saboreiam
a liquidificação do sémen
das manhãs do eterno Inverno
no deserto enterro
as tuas mãos
em teus lábios desespero
o silêncio
que nas palavras
prometidas
escreves e ditas e ditas
e escreves,
porcarias sem sabor
hormonas voadoras como
pássaros incolores
que o amor transporta nos
dentes do desejo
desejas-me sabendo que no
meu corpo
há parafusos de aço
roldanas
chapas metálicas e
zincadas
placas de madeira que a
lareira incendeia
come
alimenta
as verdes noites do
prazer
quando todos os relógios
em ti dormem comem e fodem,
o quê?
os governos fodem o povo
o povo fode o vizinho do
lado
coitado
do sapateiro
e do barbeiro
fodidos eles
também
pelo governo que fode o
povo
em nome de deus
o quê?