Tão tristes
Estes dias de viver
Viver sem viver,
Tão tristes
Os tristes dias
Os dias onde acordam as
lágrimas
E se deita a melancolia,
O dia
Quando acorda
E está morto
E amanhã
Um novo dia
Um dia
Sem o dia…
O triste dia
Nas lágrimas do dia.
Tão tristes
Estes dias de viver
Viver sem viver,
Tão tristes
Os tristes dias
Os dias onde acordam as
lágrimas
E se deita a melancolia,
O dia
Quando acorda
E está morto
E amanhã
Um novo dia
Um dia
Sem o dia…
O triste dia
Nas lágrimas do dia.
Meu desejo
Flor que dorme nos lábios
da maré
Serei o teu silêncio
(e como posso eu ser o silêncio
de alguém se a minha vida sempre foi o caos…a desordem)
Do teu silêncio desejo
Nas palavras que te
escrevo
Das palavras que semeio…
E quando pego nesta
enxada de luz
E quando manuseio
delicadamente
Esta enxada de luz
Sinto as lâminas
envenenadas que só a noite consegue desenhar,
Então…
Nunca poderei ser o teu
silêncio
Nunca serei o teu desejo
Mas posso vestir-me de
palavra
Pincelar os lábios de
encarnado verso
Ou colocar nas mãos
Nas minhas
Nas tuas mãos
Todo o desejado luar.
Despeço-me de mim,
despeço-me das coisas simples, despeço-me de todo o silêncio que construí,
Despeço-me deste cansaço,
despeço-me deste esqueleto que transporto…
E do último abraço,
Às vezes, às vezes pareço
o meu pai…
(no final da doença)
Que me questionava
Se era de dia
Se era de noite,
Depois dizia…
Sabes filho, já nem sei
se é dia…
Já nem sei se é noite…
Tanto faz
Dizia-lhe eu,
Despeço-me das sílabas
que lancei ao mar,
Despeço-me das palavras
que escrevo…
Das palavras que escrevi…
Dos rabiscos
Da chuva,
Despeço-me das primeiras
luzes da manhã,
Despeço-me da última
estrela que me olhou…
E se esconde dentro de um
círculo de luz com olhos verdes,
Despeço-me da solidão,
Ela despede-se de mim…
Trocamos um abraço,
Gravamos os nossos nomes
dentro do nosso coração…
E partimos para esta
invisível viagem,
Despeço-me da poesia,
Do dia,
Da noite,
Quando quase sempre a
noite despede-se de mim,
Despeço-me da geometria,
De Deus,
E novamente,
Da poesia,
Que morra a poesia e este
poema de “merda”,
Despeço-me da Terra e do
mar,
E do mar e da Terra,
Despeço-me em silêncio,
Dos barcos da minha
infância,
Despeço-me…
Sem saber o que é a
despedida.
Meu doce poético
Que em cada noite
Habita o meu pensamento
E enquanto as estrelas
nascem
Crescem
E morrem
O teu olhar poisa nos
meus lábios,
Meu doce poético
Das manhãs tristes e
frias
Das manhãs em que as
palavras acordam congeladas
Como acordam as árvores…
Como acordam as
madrugadas,
Meu doce poético
Menina das sílabas em
papel
Menina que é paixão
Paixão em pedacinho de
mel,
Meu doce poético
Que em cada noite
Habita o meu pensamento,
Que em cada noite se
veste de canção!
um copo de água
desesperadamente
de água
desesperadamente dentro
do círculo
de água
desesperadamente o
círculo dentro do quadrado
a noite
desesperadamente dentro
do copo de água
um copo de água
onde descansam as flores
das tuas mamas
a noite
desesperadamente
desesperadamente a noite
quando baloiça nos teus
lábios
o desespero da boca
nos beijos
desesperadamente da noite
um copo de água
dentro do círculo
o círculo
desesperadamente dentro do quadrado
desesperadamente
o círculo
desesperadamente dentro do quadrado desesperadamente dentro da noite.
as correntes do amor
imaginadas numa parede de
vidro
as correntes em
sofrimento
que abraçam o corpo
cansado da vida
em despedida
as correntes do amor
embriagadas no abraço da
madrugada
sem nada
ao luar
as correntes do amor
no coração de um rio
imaginadas numa parede de
vidro
antes de cessarem todas
as palavras
em todos os desejos
em todos os momentos
as correntes do teu amor
que me prendem ao espelho
invisível da solidão
entre árvores de papel
e murmúrios de fome
ao pequeno-almoço